30.3.05

Leitura obrigatória

Antes das eleições, José Sócrates denunciou a "obsessão do défice" como uma "questão ideológica". Considerou-a mesmo a causa da "recessão". Para Sócrates, a governação passada esteve determinada por uma ideologia. Por isso, o plano de Sócrates, mais do que na tecnologia, assentou na ruptura ideológica: na recusa do "liberalismo" em nome da "igualdade" e "coesão social". Como é então possível que tanta gente insista em tratar Sócrates como alguém que não é "ideológico" e que "até podia ser de centro direita"? Talvez por causa da sobrevivência do mito marxista de que só é de esquerda quem subscreve o colectivismo de tipo soviético. Mas a maioria da esquerda ocidental preferiu sempre o socialismo sob a forma da socialização pelo Estado da riqueza criada por empresários individuais. Foi esse, durante décadas, o programa dos bem sucedidos socialistas escandinavos. É esse o programa de José Sócrates. Chama-se "socialismo". Preza mais a imposição da igualdade pelo Estado do que a busca da excelência pelos indivíduos. Permite iniciativas e negócios, mas nas condições do Big Brother. Há quem, não sendo socialista, não se importe. Mas não vale a pena tentar-se convencer de que não é socialismo.