22.4.05

Relativismo e niilismo

Pode ser que o ideal de liberdade de escolha de objectivos sem reclamar a sua validade eterna e o pluralismo de valores associado a isto não passe do fruto tardio da nossa civilização capitalista em declínio: um ideal que épocas remotas e sociedades primitivas não reconheceram e que a posteridade olhará com curiosidade, possivelmente com simpatia, mas com pouca compreensão. Talvez seja assim; mas não me parece que daí se possam retirar conclusões de cepticismo. Os princípios não são menos sagrados por não se poder garantir a sua durabilidade. Com efeito, o próprio desejo de garantir que os nossos valores são eternos e seguros num determinado paraíso objectivo não mais é, porventura, do que o anseio das certezas de infância ou dos valores absolutos do nosso passado primitivo. "Compreender a validade relativa das nossas convicções”, dizia um admirável autor do nosso tempo, “e mesmo assim lutarmos por elas inabalavelmente é o que distingue o homem civilizado do bárbaro”. Pedir mais do que isto é talvez uma profunda e incurável necessidade metafísica; mas permitir que determine a nossa actuação é um sintoma de imaturidade moral e politica igualmente profunda e mais perigosa.

De salientar que “o admirável autor do nosso tempo” era Joseph Schumpeter. Na minha opinião, é um pouco esta a dificuldade. Concluir que aquilo em que acreditamos não é absoluto, mas mesmo assim lutar pelos nossos ideais de forma plena.