26.8.05

Florestas limpas

V: A excessiva divisão do território (em meio milhão de proprietários) dificulta as limpezas florestais?

GRT: A limpeza da floresta é um mito.

O que se limpa na floresta, a matéria orgânica? E o que se faz à matéria orgânica, deita-se fora, queima-se? Dantes era com essa matéria que se ia mantendo a agricultura em boas condições e melhorando a qualidade dos solos. E, ao mesmo tempo, era mantida a quantidade suficiente na mata para que houvesse uma maior capacidade de retenção da água. Com a limpeza exaustiva transformámos a mata num espelho e a água corre mais velozmente e menos se retém na mata, portanto mais seco fica o ambiente.

Excerto da entrevista concedida pelo Arquitecto Gonçalo Ribeiro Telles à jornalista Alexandra Correia da Revista VISÃO, nº 545, em 14 Agosto 2003.


Link via Blasfémias.

Uma floresta, uma verdadeira floresta e não as matas que existem pelo país fora, limpam-se a elas próprias. Uma floresta de carvalhos, por exemplo. Que sujidade produz? Nenhuma. Apenas as folhas que caem no Outono e tão necessárias são para a alimentação e enriquecimento da terra, bem como à retenção das águas das chuvas, impedindo, dessa forma, as cheias. Os carvalhos (tal como todas as tradicionais árvores do clima mediterrâneo) são de crescimento lento, logo a sua propagação espontânea não se faz de um momento para outro. Uma semente que caía na terra e germine apenas dará origem a uma árvore muitos anos mais tarde. É precisamente o oposto do que sucede com os pinheiros e os eucaliptos que se propagam rapidamente e cujas árvores jovens atingem, bastante cedo, tamanhos consideráveis que impedem um normal desenvolvimento da vida florestal.

Até há dois anos atrás qualquer pessoa se riria do que está escrito no parágrafo anterior, tal como sempre se ridicularizou o Arquitecto Ribeiro Telles. Agora, e com os incêndios dos últimos anos que parecem não dar muita margem para dúvidas, já se começa a aceitar o ter sido um disparate a política florestal seguida, nos últimos 70, no nosso país.