4.9.05

Carta de Belmiro ao Expresso

Foi com verdadeira surpresa e estupfecção que tive conhecimento, já no domingo, por ter para isso sido alertado telefonicamente, da publicação de uma notícia com o título «Belmiro apoia Cavaco» na edição do EXPRESSO de 27-8-05.

Indo directamente ao assunto, direi que a notícia não tem qualquer fundamento e não tenho a mínima ideia de qual terá sido a fonte de entre «sociais-democratas e de elementos próximos de Cavaco».###

Uma jornalista do EXPRESSO fez na passada quinta-feira, com insistência no dia seguinte, uma ou duas perguntas com carácter mais ou menos especulativo, às quais não respondi, tendo a minha colaboradora Cristina Carneiro dado a resposta habitual - não responder a perguntas com prazo curto para resposta e muito menos quando se trata de alimentar especulações de natureza política ou económica, que não podem ser tratados com leviandade ou ligeireza.

Vários jornais e canais de televisão fizeram ressonância do conteúdo da vossa notícia. Também os «bloguistas» me escrevem, assumindo que se trata de uma verdade, por eu não haver desmentido a notícia.

Em face disto, é meu entendimento que só o EXPRESSO pode, com relevo semelhante, pedir desculpa aos seus leitores por ter publicado uma notícia totalmente não fundamentada.

Permito-me acrescentar que o EXPRESSO estava e está particularmente bem informado, por foi na vossa edição de dia 7-3-85 (há mais de vinte anos) que ficou registado a única vez em que eu decidi tornar pública a minha intenção de voto, na altura a favor do dr. Mário Soares, por razões então muito bem detalhadas, nomeadamente o apreço pela sua actividade política anterior, num período de grande confrontação política e partidária.

O momento actual é muito diferente - vivemos sim num regime de luta política e partidária, mas num quadro normal de afrontamento democrático.

Não vejo, pois, qualquer razão para voltar a fazer uma excepção, sobretudo antes de serem conhecidas as decisões definitivas dos candidatos a candidatos.

No momento estou a preparar-me para exercer o meu voto. Comecei a ler a 6ª revisão anotada (J.J. Almeida Lopes) da Constituição da República Portuguesa, com o objectivo de conhecer, com mais profundidade, os poderes do Presidente que vier a ser eleito, o que me ajudará a, como cidadão, votar no dia das eleições.

Como dirigente de um grupo empresarial de grande dimensão em Portugal e no mundo, e após estudar os programas de cada candidato e o potencial impacto no crescimento e competitividade do país, bem como a coerência e consistência das suas ideias ao longo dos últimos 20 anos, poderei então decidir tornar pública a minha posição, isto é, a minha opinião sobre o que será melhor para a economia e para a sociedade portuguesa.

A sociedade não funciona bem sem uma economia de sucesso e as empresas (pequenas, médias e grandes) não funcionam sem uma sociedade coesa e crescentemente mais rica.

É responsabilidade das instituições políticas - Governo, Assembleia da República, Presidente da República - e dos Tribunais gerir harmoniosamente interesses que, com frequência, obrigam a opções.

Fico grato por dar este esclarecimento aos leitores, já que não tenho qualquer intenção de responder aos artigos e perguntas de outros órgãos de comunicação social, provocados pela reverberação do vosso infeliz artigo.
Nota: alguém tem conhecimento de trabalhos/teses/livros que abordem o uso de notícias especulativas com o fim de aumentar audiências?