5.9.05

Resumindo e não falo mais nisso...

Eu fui um dos que foi apanhado pela surpresa da dimensão das consequências do furacão Katrina. No meu caso concreto esta surpresa teve consequências concretas e nefastas para mim já que a minha actividade profissional esta ligada ao investimento em mercados financeiros e as ondas de choque do furacão, obviamente, também ai se fizeram sentir. Em termos económicos e financeiros debate-se já a importância que o furacão adquiriu como símbolo do momento de viragem na economia americana e na orientação da sua politica financeira. Mas este simbolismo faz-me reflectir sobre duas questões importantes.

A primeira questão que me é evidenciada é a surpresa geral que foram as consequências deste furacão. Os mercados financeiros são talvez o ambiente mais exigente e competitivo no uso da informação, inclusive mais do que o mundo da espionagem que actualmente se cruza frequentemente com o mundo financeiro. Todas as informações disponíveis são consumidas de forma voraz e escrutinadas exaustivamente nas suas variadas implicações e consequências. Assim desde os relatórios de contas de empresas, a anúncios de avanços científicos, a boletins meteorológicos, tudo que implicar alterações na vida dos mercados, ou seja das pessoas, é analisado e imediatamente repercutido nas avaliações dos activos. Portanto é para mim impressionante perceber que os agentes de mercado falharam por completo a análise e previsão do que seriam as implicações deste acontecimento. Isto demonstra que, independentemente das falhas na preparação e prevenção de um acontecimento desta magnitude, a esmagadora maioria das pessoas mais bem informadas do mundo não esperava o que aconteceu! Dai que este sentimento generalizado de critica face ao governo dos EUA de falta de previsão do que seriam as consequências, e portanto na ausência de preparativos adequados … parece-me hipócrita.

A segunda questão está relacionada com as falhas apresentadas nos sistemas de prevenção e auxilio à catástrofe. Sim, existem muitas falhas, e desgraçadamente muitos sofrem e morrem antes do tão necessitado auxílio. A palavra auxílio, vem de ajudar quem precisa, o que significa que é impossível retirar da vida das pessoas um acontecimento como este, apenas auxiliar e minorar os seus efeitos. E é por isso que eu me impressiono com as capacidades daquele país, com os seus organismos estatais, com as suas estruturas civis, com o seu exército, com os seus média e com a sua capacidade de critica e reacção. Mas impressiono-me sobretudo com o seu pragmatismo e com o espírito daquele povo. Eu não estou a olhar para as falhas, eu estou a olhar para a reacção ás falhas!

Face aquele espírito, não me resta nenhuma dúvida que daqui a um ano, quando as cicatrizes e marcas do furacão ainda forem visíveis e outros furacões se aproximarem, nada será o mesmo no que se refere à preparação deste tipo de catástrofes. Toda este acontecimento vai ser visto e revisto, pensado e analisado para que em caso de um novo e ainda maior cataclismo aconteça todas as falhas sejam equacionadas e corrigidas, todos os recursos necessários numa próxima vez sejam alocados e activados a tempo, todos os acontecimentos sociais desta catástrofe sejam prevenidos, e todos os responsáveis técnicos e políticos sofram as devidas consequências… E é isto que lhes invejo.


(André Almeida Santos)