4.11.05

Passividade em Paris

A poucos quilómetros de Clichy-sous-Bois, e quase à mesma hora em que dois adolescentes desta cidade morriam electrocutados numa central sob alta tensão, pensando fugir a um controlo de polícia, Jean-Claude Irvoas assinou o seu decreto de morte.

Este francês de uns 50 anos passava pela cidade de subúrbios de Epinay-sur-Seine. Ia com a mulher e a filha no carro, e nem sequer estava a trabalhar. Mas, na Rue de Marseille, reparou num candeeiro público, que tinha sido instalado pela empresa onde trabalhava. Toda cidade deve ser equipada com o mesmo modelo de lampadário, mas naquele momento Jean-Claude Irvoas queria tirar uma fotografia desta primeira instalação, para o seu trabalho.

Assim que saiu do carro com a máquina fotográfica na mão, dois homens novos atacaram-no. Irvoas deu um safanão num deles, e colou-o ao chão. Um terceiro jovem surge então. Os três vão espancar até à morte este pai de família, em frente da mulher e da filha dele, aterrorizadas.

No café mesmo em frente ao local da agressão, havia uns trinta homens. Ao lado, uma mercearia estava apinhada de mulheres a fazerem compras. Mas ninguém interveio. Ninguém "viu nada". Só a gravação vídeo do crime por uma câmara de segurança de um banco permitiu reconstituir com exactidão o que aconteceu.

Os jornalistas que se deslocaram a Epinay-sur-Seine foram ameaçados e "expulsos" pelo mesmo bando que aterroriza os habitantes e que não admite intrusões no seu território.
(Público, via GLQL)