13.1.06

Candidatos de esquerda

Devíamos (...) ter prestado mais atenção à bizarra convergência entre Manuel Alegre e Cavaco Silva.

Quando falaram de privatizações e de sectores estratégicos. Como a água. Em que Alegre chegou a dizer que era caso para o Presidente derrubar um Governo. E Cavaco alertou, várias vezes, para «o perigo» de o Estado «perder o controlo» deste «bem essencial». Como se fossem parar às mãos de Osama bin Laden.

Ninguém interpretou bem esta «coligação estatizante», porque só assim surpreendeu ver os candidatos, todos à excepção de Garcia Pereira, aclamar em uníssono a intervenção do dr. Sampaio na EDP.

E todos se preveniam para que, através desta campanha eleitoral, reemergisse a doutrina dos centros de decisão e a defesa dos «campeões nacionais», em versão pouco elaborada.

Os debates foram sonsos porque os candidatos não exibem diferenças de fundo, não questionam o sistema e escapam-se deliberadamente da questão essencial: basta mexer nas regras do sistema ou será preciso mudar o sistema por inteiro?

Todos estão, claramente, no primeiro registo. Incluindo Cavaco. Por isso também não espanta vê-lo, já esta semana, explicar neste jornal porque pensa que a legislação laboral não é obstáculo à competitividade nacional.

(...)

Enfim está visto que Cavaco Silva, ou qualquer dos outros adversários, pretende ser o Presidente de uma República que resiste à mudança que outras nações ousaram fazer. Há investimentos que esperam 8 anos por uma aprovação estatal? Cria-se uma «via verde», um fura-filas, em vez de matar o absurdo.

Nesta República presa a dogmas, incapaz de cortar com o instituído, não há Presidente que a salve. Tal como nos hospitais, ou nas moedas: num sistema viciado, as más expulsam as boas.