25.1.06

A vitória de Cavaco e a direita em Portugal (2)

Pese embora uma linguagem agressiva “anti-neo-liberal”, a verdade é que a concepção liberal da sociedade, das instituições democráticas, da economia, das relações humanas, e por aí fora, ganhou claramente terreno. Hoje a esquerda que conta, mesmo sem ser “blairista”, já não é marxista, anti-capitalista, estatalista, nacional e internacional populista. O que, em 30 anos, não é pouco. Não me estou a esquecer do peso actual do “politicamente correcto”, do relativismo cultural e moral, da mentalidade socialmente assistencialista”, do intervencionismo estatal na economia, etc, etc, nas opiniões públicas e nas elites políticas. Por isso é que a esquerda é maioritária. A esquerda recentrou-se. A “velha esquerda” perdeu uma guerra fundamental : a dirigida contra uma sociedade aberta e de mercado. A “nova esquerda” elegeu outras linhas de fractura com a direita e com o liberalismo (dito “neo-liberal” e “conservador”). Ao contrário do que alguns anunciaram, o confronto ideológico e político direita-esquerda continua a ser de actualidade.

O que afirmei não é que a ascensão do liberalismo em Portugal está já ali ao virar da esquina. Longe disso. Limitei-me a defender que as perspectivas limitadas de hoje são, apesar de tudo, menos limitadas do que alguma vez foram. Assim haja quem saiba (com reflexão, persistência e coragem) tirar partido delas.