23.3.06

As angústias de Miguel Sousa Tavares

No Expresso de há quatro dias, Miguel Sousa Tavares abriu-se ao país, dando conta das suas angústias. Achou-se «estúpido» perante a suposta euforia de um governo socialista face ao putativo dinamismo do sector financeiro e empresarial português – o qual, aparentemente, está vivo e recomenda-se, a avaliar pelas hostis mas excitantes OPAs (já duas, vejam bem). Miguel Sousa Tavares vê no exercício uma fatal contradição, senão de termos, pelo menos de princípios. Provavelmente, o jornalista-de-opinião não terá percebido que o socialismo, «esse» socialismo, não é o que, a ocidente, chega ao poder. A estirpe que chega ao poder, de «socialismo» já tem pouco. Graças a Deus, acrescentaria eu, pese embora os efeitos destrutivos que esses resquícios ainda por aí provocam, em sede de equilíbrio orçamental, divida pública, dependência face ao Estado-paizinho, etc.

Mas tem o comentarista razão quando, analisando as «idiossincrasias» (chamemos-lhe isso) do «mercado», coloca o dedinho na ferida, referindo-se à iniquidade do mesmo. Ou seja, de um mercado que nunca esteve a salvo de distorções, regras e esquemas mais ou menos obscuros, quase sempre com o patrocínio do Estado, a aquiescência dos partidos (clientes dilectos) e o aplauso dos «grandes» empresários (que adoram chupar na teta da vaquinha dos proteccionismos e dos apoios ao «tecido empresarial»).