8.3.06

Co-incineração

Há pouco mais de um ano atrás, enquanto fazia campanha pelas ruas de Setúbal, como cabeça de lista do PS, o agora deputado e comentador na RTP, António Vitorino, dizia que eram reduzidas as hipóteses de, com um governo socialista, se proceder à co-incineração de resíduos industriais perigosos na cimenteira da SECIL da Arrábida. Como argumentos apresentava a requalificação ambiental da Serra e o desinteresse manifestado pela empresa na queima destes resíduos.
Ao acompanhar José Sócrates pelas ruas da cidade, o candidato sabia perfeitamente o custo em número de votos se anunciasse que o ex-ministro do ambiente acalentava a reanimação do seu "pet project".
A ser verdade que o processo vai agora avançar nas cimenteiras de Coimbra e de Setúbal, o deputado deveria, no mínimo, tornar pública a sua posição e em caso de concordância com esta solução, deveria explicar a razão de tal mudança de opinião, tendo em conta que nenhuma evolução tecnológica nos últimos meses a tornou melhor escolha.
Outra parte da questão é a disponibilidade da cimenteira. Até que ponto a dependência do beneplácito governamental para exercer a sua actividade fabril no local onde está implantada a torna sensível às mudanças de governantes e dos seus humores. É que há um ano atrás, um outro ministro do ambiente, mostrava-se satisfeito com a decisão da empresa, reforçando assim os seus planos para resolver o problema de outra maneira.
Será este mais um exemplo da (má) influência que os políticos têm na actividade económica, fazendo depender esta da sua própria agenda ou desse desejo, quase sempre perigoso, de deixarem obra feita?