15.3.06

Peter Bauer e as variáveis do crescimento económico das economias subdesenvolvidas

Por razões que não vêm ao caso, no último mês tenho andado a estudar com pormenor os pensadores das diversas correntes do desenvovimento económico; daí que tenha decidido trazer aqui ao O Insurgente, hoje, Peter Bauer, o mais impressionante autor liberal desta classe, seguindo a homenagem que justamente lhe foi feita no último número do The Cato Journal.

Durante a segunda metade do século XX a generalidade das correntes económicas influenciadas, quer pelo marxismo, quer pelo pensamento keynesiano, postularam que uma das condições do sucesso do desenvolvimento económico dos países rotulados como sendo do «Terceiro Mundo» passaria pelo «planeamento económico centralizado». Inspiradas nas teses historicistas, catalogaram as economias (de «Primeiro Mundo», em «Vias de Desenvolvimento», e de «Terceiro Mundo»), impondo role models ideais a seguir pelos mais pobres. Ao longo de décadas no plano económico e político assumiram-se receitas fechadas prescritas às regiões mais pobres, cujas populações permaneceram limitadas nas suas aspirações, asfixiadas por soluções tantas vezes afastadas da sua cultura, das suas aptidões, das suas motivações e das suas instituições fundamentais.

Peter Bauer foi uma das vozes dissonantes - talvez a mais sólida - contra esse mainstream. Desde os anos cinquenta, e ao longo de todo o século XX, Bauer publicou uma extensa obra onde desconstruiu as teses do dirigismo estatal como fórmula de crescimento argumentando contra os seus lugares comuns (que só por via do planeamento central e do investimento estatal em larga escala se quebram os ciclos de pobreza, e que o indivíduo que nasce pobre num ambiente adverso está condenado a permanecer nessa condição). Com enorme persistência, Bauer demonstrou que os maiores inimigos do desenvolvimento económico dos países mais pobres – e dos seus cidadãos – são os que resultam da conjugação explosiva deste conjunto de factores: ajuda internacional, restrições à emigração, políticas de controlo da natalidade, barreiras alfandegárias, excessivo estatismo e burocracia. Bauer argumentou, de forma sustentada, que o Dirigismo, o Estatismo e as «Engenharias Sociais» não são a solução para, mas a causa do, subdesenvolvimento, e que a chave para o sucesso é uma: Entrepreneurship (ou Empreendorismo).###

Fervoroso defensor da liberdade individual e do governo limitado, Bauer seguiu sempre uma receita simples: o desenvolvimento económico será tanto maior quanto mais amplo e variado for o leque de escolhas – ou a gama de alternativas efectivas – à disposição dos indivíduos.

Como bem refere James A. Dorn (ver aqui), muitas das teses de Bauer começam a ser, no início do século XXI, geralmente aceites, o que representa uma vitória da persistência e da coerência de pensamento, e um incentivo para quem equaciona ideias impopulares, mas correctas.

Rodrigo Adão da Fonseca

Publicado também no Blue Lounge.

Leituras recomendadas (todas elas constantes do Volume 25 Number 3, Fall 2005, do The Cato Journal, «Remembering Peter Bauer»):

Milton Friedman e Thomas Sowell: «Reflections on Peter Bauer’s Contributions to Development Economics»

Amartya Sen: «How Does Development Happen?»

James M. Buchanan: «The Market, Yes; Demos, No»

Israel Kirzner: «Human Attitudes and Economic Growth»

Anthony Daniels: «Peter Bauer and the Third World»