1.5.06

Em memoria de Revel

“le mensonge idéologique consiste (dans les pays developpés) a poursuivre les vieilles diatribes contre le capitalisme, tout en sachant… que l’on n’a rien pour le remplacer.”
Jean-François Revel

No Liceu tive um excelente professor de Fisica, maior responsavel pela opção profissional (errada) que tomei mais tarde. Para nos explicar a Relatividade de maneira infantil dava-nos o exemplo de um comboio e uma estação. A estação passa pelo comboio, ou vice-versa? Percebiamos que dependia do referencial, do ponto de vista do passageiro ou do chefe da estação.
Vem isto a proposito de Jean-François Revel. Ha algum tempo, ouvi o Dr Anacleto Louçã chamar-lhe reaccionario. O curioso é que o proprio Revel concordaria, pois foi ele mesmo que escreveu: "Os factos são reaccionarios". Foi de factos, de realidade que viveu. Não aplicou a relatividade da fisica à realidade humana. Ao contrario das pulsões totalitaristas do Dr Louçã, de marxistas, nazis e socialistas varios, via a realidade como ela é. Os factos são, não dependem do passageiro ou do chefe da estação. O Sol nasce e põe-se, quer se queira, quer não.
Encontrar quem explicasse com factos indesmentiveis e de modo tão articulado, as razões do anti-americanismo europeu, tornou-me seu adepto incondicional. Seja certo ou não.
Conheci-o quando li “O Monge e o Filósofo”. Nesta obra, Revel conversa com o filho (Matthieu Ricard), um engenheiro francês bem sucedido tornado monge budista. Fascinou-me a abertura de espírito de ambos e a maneira natural como encaravam as divergências, enquanto em conversa destruíam mitos e mal entendidos. Particularmente curiosa é a descrição que Ricard fez do encontro entre o Dalai Lama e um monge de um convento em França.
É impossível ficar indiferente a Revel. Parar um livro ou um texto a meio, nunca é devido ao fastio ou desinteresse, senão à discordãncia.Após o primeiro livro, li tudo o que pude encontrar. Valeu a pena. Revel morreu como voz incómoda e corajosa. Não será esquecido. Já estou a ver o próximo Sampaio a discursar dizendo: “Preferimos estar errados com Derrida, que certos com Revel” Que lhe faça bom proveito.
Cá em casa é imortal e descansa ao lado de Ayn Rand e Hayek.
Para mais informação, procurar em Chez Revel.