23.5.06

Leitura recomendada

No Portugal de Abril, a Direita desapareceu: o Partido menos à Esquerda denominava-se mesmo do centro – Centro Democrático e Social. O respeitinho é muito lindo. Quanto ao PSD, os seus dirigentes cedo perceberam que, para ganhar eleições, além de “democratas” precisavam de ser “sociais”. Daí a mudança de nome para Partido Social-Democrata. Foi assim que o País entrou na Era do Social. Socialistas e comunistas podem sempre ser vistos como sociais elevados à potência.

Evidentemente que na mudança de nome também pesou o medo. Toda a Revolução tem uma contra-revolução – os factos são sempre reaccionários – e por isso o PS um dia poderia sempre acrescentar um D ao nome. Certo é que a mudança de nome se traduziu em mais votos e fez do PSD a única grande alternativa ao PS. O País ganhou em estabilidade democrática, mas perdeu em pluralismo ideológico. E, com o tempo, descobriu-se que a grande escolha é, afinal, entre dois partidos sociais-democratas. Ou, se quisermos, entre dois Partidos Socialistas (embora um, como costuma dizer um amigo meu, seja a Diesel: PSD)
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Não é o social-democrata Sócrates que está mal, ele até está muito bem. A fazer o que os outros foram incapazes de (des)fazer. É pior do que a propaganda, mas muito melhor do que a encomenda. Um conselho: sejam sérios, mudem de nome ou então de partido. Que tal PP? Deixem cair o D, já não é preciso. Regressem às origens, preparem-se e descubram que uma oposição com futuro só poderá ser liberal e conservadora.

Precisamos de bom governo e de melhor oposição, não de gente que critica o que não deve só para fazer que faz oposição. Apesar da moção “Fazer Futuro” e agora da ironia do “Manifesto da culpa dos outros”, a verdade é que ainda não se percebeu que a política a sério não se faz sem ideias consistentes e capazes de desafiar uma ideologia que encoraja o comportamento anti-social através da concepção dos mecanismos do Estado Providência. O défice e a dívida pública não são a causa, são consequência da falta de uma visão coerente e alternativa ao campo pequeno do socialismo: a social-democracia.

O discurso da não intervenção do Estado, no caso dos “selos”, está muito bem, mas não condiz com o envelope que contém as facturas que temos vindo a pagar em nome de uma ideologia que trata os meios de produção, incluindo os próprios seres humanos, como bens móveis de uma classe dominante ou do Estado, a usar para benefício de um “bem maior”. Uma ideologia paternalista que dá razão a Paul Valery: “A política é a arte de impedir as pessoas de se meterem naquilo que lhes diz respeito”.