12.5.06

A propósito de Manuel Maria Carrilho (II)

O marido da bela Bárbara vai lançar um livro que considera esclarecedor da tenebrosa cabala que lhe terá sido movida para o fazer perder as eleições autárquicas de 2005. Para quem não aceita ir a votos, a única democracia válida é aquela em que os candidatos jamais correm o risco de perder. Por outras palavras, só se é democrata conquanto os outros estejam de acordo, calem, votem e façam cumprir os desígnios de quem se sente fadado para governar. Num país habituado a homens extraordinários e providenciais - ai, os ministérios estão cheios deles - não é de estranhar que alguns se sintam donos do regime e que nós, míseros súbditos, estejamos sempre - no balcão, na plateia ou nas galerias - prontos a apluadi-los. Como perdi há muito os últimos laivos dessa necessidade pré-lógica e adolescente da crença em maquinações tenebrosas - complots judaico-bolchevistas, urdiduras satânicas, conspirações nazistas, sinarquias alienígenas e segredos templários - deixo para o eminente filósofo do nada (dos pós-pós modernismos) o consolo de se sentir objecto da acção dos arcanos. No que me toca, não lhe ligo coisa alguma nem contribuirei com um cêntimo para desflorestar as nossas colinas com papel tão mal utilizado.
Miguel Castelo-Branco no Combustões.