2.6.06

Privatizar os empresários frustrados

Um dos comentários mais frequentes que se ouvem quando se discute o mau desempenho da economia portuguesa é o de que temos falta de empresários e que os que temos são frágeis e pouco capacitados. Frequentemente, esta argumentação acaba a maldizer os empresários e a sustentar a necessidade de um papel mais intervencionista do Estado, como forma de colmatar a deficiência.

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Terceiro, a invocação na necessidade da intervenção “compensadora” do Estado encerra em si uma contradição com um elevado potencial transformador. De facto, tal invocação pressupõe que, pelo menos nalguns casos, o Estado consegue fazer melhor do que os empresários. Isto é, prolongando o argumento, que o Estado pode ser melhor empreendedor do que os empresários. Mas como o Estado é uma entidade abstracta, a sua acção é assegurada por pessoas concretas. O que quer dizer, continuando o argumento, que o Estado tem, dentro de si, melhores empresários do que os empresários propriamente ditos.

Mas então se os empresários que estão no Estado são melhores do que os que estão “cá fora”, porque é que aqueles não vêm cá para fora – isto é, criar ou gerir empresas – e ser empresários a sério, em vez de ficarem refugiados sob a capa protectora do Estado? Ou, por outras palavras, porque é que os melhores empresários em potência recusam o risco de ser empresários reais?

Talvez por isso o melhor contributo que um Governo poderia dar ao empreendedorismo seria privatizar os empresários frustrados que, deslocadamente, parecem abundar no Estado.