29.6.06

Sobre a irresponsabilidade europeia

Irresponsabilidade é o termo exacto para definir as recentes atitudes europeias face aos EUA. Quando o discurso dos governantes é igual ao dos guevaristas e racistas nas ruas, qualquer coisa não está bem. Não se pode evidentemente dizer que tudo o que os EUA fazem é bem feito. Mas o que fazem tem a vantagem de corresponder a uma tentativa de utilizar os meios apropriados para aplicar uma política. É da moda falar dos "erros" americanos, particularmente no Iraque e no Afeganistão. Como é evidente, terá havido "erros" no sentido em que sempre há erros quando se adopta um determinado curso político. Mais interessante é como, nesta perspectiva, os europeus ou as agências internacionais favoritas dos europeus (em especial a ONU) nunca cometem erros. É óbvio que quando não se faz nada também não se cometem erros. Pelo menos no sentido em que os americanos os cometem. Mas talvez se possa dizer qualquer coisa sobre outro tipo de "erros", nomeadamente os resultantes da inacção e da ineficácia. Vale a pena recordar alguns deles. Desde logo, o fracasso das negociações iranianas, para as quais foi agora necessário, mesmo se contraditoriamente, pedinchar aos "carrascos de Guantánamo" que se associassem. Ou o namoro com o "povo palestiniano", ultimamente entretido em lançar-se numa situação de pré-guerra civil. Sem esquecer a ineficácia da ONU no Ruanda, no Congo, no Darfur ou em Timor. Ou a sua corrupção, como no escândalo do programa "Petróleo por Comida". Para não mencionar outros casos que ocorreram bem dentro da Europa, como a Bósnia ou o Kosovo, onde sistematicamente foi necessário à última da hora chamar os americanos para se encontrar uma solução, por mais imperfeita que fosse.

É este o curriculum da irresponsabilidade europeia e dos seus instrumentos de política externa favoritos. Uma irresponsabilidade própria de quem, precisamente, não se sente responsável por nada, mas vai deixando atrás de si um rasto trágico. Perante isto, compreende-se que haja apenas uma solução: culpar Bush. É fácil e sempre dispensa de se pensar e fazer qualquer coisa.