12.8.06

Almoços Grátis

It is not from the benevolence of the butcher, the brewer, or the baker, that we expect our dinner, but from their regard to their own self-interest.
- Adam Smith
Isto não é um ethical statement, é uma constatação da realidade, logo não é passível de julgamento moral e qualquer tentativa de o fazer passa pela alteração do real e pela criação do Homem Novo que motivou e motiva tantas atrocidades.
Vem isto a propósito do artigo do Dr Pedro Norton de Matos no Semanário Económico. Diz:
Uma das frases mais infelizes no léxico da gestao,tambem muito utilizada fora dessa área,é que nao há almoços grátis.Tal expressao fere a minha sensibilidade,e apesar de a ouvir e ler com muita frequencia,quero crer que nao é verdade.Sobretudo, quando aplicada á vida extra empresa.Nesse domínio, tendo a rejeitá-la liminarmente.
Com efeito,o fundamentalismo desta afirmaçao de origem anglo saxónica,pretende dizer que nao há lugar para altruismos ou atitudes desinteressadas.Tudo terá um objectivo material ou comercial em vista.Ninguem, dá nada a ninguem.A vida seria uma continua conta corrente,em que sem contrapartidas materiais,nada feito.Que tristeza! Que deserto de sentimentos e emoçoes.
O equívoco em que o Dr Pedro Norton de Matos cai neste texto é a armadilha que justifica as utopias e as atrocidades na sua demanda. A frase “não há almoços grátis”, não é uma posição moral, é uma constatação da realidade da qual pode ou não ser extraída uma conclusão moral. Não estou a ver o Dr Norton de Matos a inquirir sobre a moralidade da rotação da Terra. Tudo o que se dá tem um custo, seja ele material ou outro. Que quem dá não o “contabilize”, é outra questão.
Quando as empresas investem/gastam em acções de responsabilidade social, isso tem um custo, seja para accionistas, consumidores ou sócios. Quer se queira, quer não. Que tenham retorno material ou outro, qual a razão porque o fazem, se se limita à imagem, é um problema diferente. A realidade não é uma questão moral.