26.8.06

Zeca Afonso e a idolatração do totalitarismo comunista (2)

Que os comunistas o tenham "nacionalizado", que se tenham apossado da sua memória como se fosse farinha para o pão da "causa" socialista, que tenham usado dos seus escritos como argamassa das teorias igualitárias, bem, isso é indesmentível mas não tem nada a ver com o próprio António Aleixo; é a velha e relha técnica dos intelectualóides esquerdistas, tudo lhes serve desde que seja da marca "popular", de Rosa Ramalho a Catarina Eufémia, invenções e mitos, deslumbramentos e atavismos próprios do coitadismo militante. Aleixo foi no pacote, por assim dizer; é um paradigma da cultura dita popular, logo encaixa na perfeição no discurso esquerdista, na liturgia comunista, nos tiques e nas manias da intelectualidade bem-pensante e fina, ou seja, da esquerda caviar, que é aquela que ao menos lê alguma coisa.

Que os comunistas e seus émulos, mais ou menos disfarçados de democratas, tenham transformado a obra daquele homem em algo de enjoativo, pela reiteração sistemática, de quase nauseante, por tanto martelarem os ouvidos das pessoas com os versos do poeta, bem, não tem dúvida: de facto, ele não há comício, não há "festa do Avante", não há "manif" onde a gente não leve com as rimas do António (as mesmas, são sempre as mesmas); pois sim, é verdade. E isso o que tem? Não poder a gente, em muitas ocasiões, até na televisão e na rádio, poder abrigar-se das enxurradas aleixianas, isso é culpa do próprio Aleixo, por acaso?

(...)

Está muitíssimo mal escrito, mas é genuíno. Não é de facto brilhante, mas é simples. Ou seja, infinitamente mais do que aquilo que se pode dizer da esmagadora maioria dos consagrados, esses brilhantes artífices do pedantismo em rima branca.