12.10.06

O funcionalismo público e a falência do Estado Social

Para explicar a sanha contra os funcionários, há boas almas que atribuem ao actual governo do PS um suposto projecto de “direita liberal” para minimizar o Estado. É talvez a mais comovente de todas as ilusões. As vítimas administrativas e docentes do actual governo convencem-se assim de que os seus problemas seriam simplesmente resolvidos mudando estes ministros, ideologicamente contaminados, por outros ministros, ideologicamente mais puros. Mas este, como o chefe do governo não se cansa de repetir, é bem um governo de esquerda. Mais: é o único governo de esquerda possível numa época de relativa estagnação económica, e quando já ninguém acredita nas vantagens de estatizar a produção da riqueza. O seu objectivo é preservar o actual Estado Social, isto é, o sistema pelo qual o poder político se reserva o direito de determinar em última instância as “escolhas” dos indivíduos. E para isso, a “esquerda moderna” só encontrou um caminho. E esse caminho, quando retiramos aos discursos e planos governamentais a sua casca lírica, é basicamente este: exigir mais aos seus funcionários, e pagar-lhes menos. É precisamente porque o governo não quer nem pode contemplar uma verdadeira mudança de vida em Portugal, que precisa de levar o funcionalismo ao purgatório. A outra alternativa de esquerda seria destruir a sociedade com impostos. A “esquerda moderna” é, apesar de tudo, sensata.