25.3.06

Irracionalismo estratégico

Irracionalismo

1. The chances are six in a million that an idea for a high-tech business eventually becomes a successful company that goes public.

2. On the average, a venture capitalist finances only six out of every 1,000 business plans received each year.

3. Bankruptcies occur for 60 percent of the high-tech startup companies that succeed in getting venture capital.

4. Mergers or liquidations occur in 30 percent of start-up companies.

O debate sobre a CPE francesa, a segurança no emprego, a facilidade ou dificuldade do despedimento ou contratação, é no mínimo irrelevante. A realidade não se compadece com boas consciências. Às empresas exige-se flexibilidade, rapidez e agilidade, ao mesmo tempo se lhes exige que garantam segurança e estabilidade a funcionários, acionistas e sócios. Ou seja, a quadratura do círculo. Pede-se, exige-se, grita-se por empresas que estão. Como se não nascessem e morressem todos os dias. Por cada Apple, Intel ou Google, há milhões que ou não chegam a nascer ou morrem prematuras (quem fica desempregado e com as dividas?) . A maior parte das ideias, nem chega à fecundação (capital). Se é assim nas tecnológicas, imagine-se as outras. Falir é muito mais fácil que crescer, mas mesmo que NINGUÈM tenha dúvidas àcerca disto, exige-se a quem tem sucesso inicial, o tenha para sempre e garanta empregos seguros, estaveis e agradaveis para todos. Go figure.

As muitas mortes da blogosfera nacional e o futuro

A tragédia francesa

Povo dotado de uma hiper-excitação nervosa quase histérica, faladores inveterados e polemistas fervorosos, os franceses estão em guerra civil larvar desde 1789: revolução, monarquia de Julho (1830), barricadas de 1848, comuna de Paris (1871), dreyfusards v. anti-dreyfusards, camelots du roi v. metecos, "collabos" v. "resistentes", pró-Argélia Francesa v. pró-independentistas, gaulistas v. soissante-huitards, lepenistas v. emigracionistas e agora chupistas v. anti-estatistas.

(...)

A França, para curar o mal, socorre-se de espadas: Napoleão Bonaparte, Luís Bonaparte, Bazaine, Mac-Mahon, Boulanger, Philippe Pétain, De Gaulle. Creio que a espada está, neste momento, nas mãos de Sarcossi. O nome soa a italiano (ou a Corso). Como disse Gustave Thibon, a França fez a revolução com as ideias de um genebrino (Rousseau) e salvou-se com a energia de um corso.

Rupturas bloquistas: o princípio do fim?

Que as coisas não vão bem para os lados do Bloco de Esquerda, já sabíamos desde as presidenciais. Joana Amaral Dias foi apenas o rosto mais mediático, mas houve outros críticos da candidatura de Louçã.

Entretanto, Miguel Vale de Almeida desfiliou-se para prosseguir um "projecto" próprio. Na frente de combate homossexual, uma velha causa sua? Se assim é, porque abandona o Bloco? Mera divergência estratégica ou algo mais?
Espero que seja o primeiro passo para o desmoronamento do tremendo bluff político que é o Bloco de Esquerda, uma estrutura desde o seu ínício assente na demagogia, no apelo a sentimentos primários de inveja e ressentimento e no forte apoio mediático de que a extrema esquerda folcrórica infelizmente goza entre nós.

Mais Capitalismo

"Na década de 1990, conseguimos finalmente deixar para trás o obsoletismo estruturalista e, a partir das reformas implementadas por Fernando Henrique Cardoso (primeiro como Ministro da Fazenda durante o governo de Itamar Franco, a seguir como Presidente da República a partir de 1994), alcançamos a tão almejada estabilidade de preços, enterrando de uma vez por todas a mitologia inercialista e as teses estruturalistas que atualmente são cultuadas somente por alguns dinossauros da UFRJ e da Unicamp.
(...)
Nos trinta e três primeiros meses do governo do sr. da Silva, o número de estatais engordou para 137 (uma foi extinta, quatro foram privatizadas e trinta e quatro foram criadas, uma média de uma por mês). A carga tributária bruta total saltou de 28,61% do PIB em 1994 para 34,88% do PIB em 2003. Por sinal, em 2003 o Brasil estava com a segunda maior carga tributária sobre salários do mundo, perdendo apenas para a Dinamarca. Finalmente, de acordo com o jornalista Diego Casagrande, no período de 2002 a 2004 os gastos com burocracia aumentaram 186,7%. E ainda tem quem afirme que o governo do sr. da Silva é neoliberal!"

Claudio Téllez, "É de Capitalismo que o Brasil Precisa"

(via Claudio Téllez)

Re: Reformistas "ma non troppo" - II

Leitura urgente

24.3.06

Reformistas "ma non troppo" - II

Com esta proposta do ministro do Trabalho e da Solidariedade Social Ficamos esclarecidos quanto ao que o governo entende ser a liberdade contratual entre empregados e empregadores:

As empresas com menos de 100 trabalhadores não podem dispensar anualmente mais de dois trabalhadores ou 10% do quadro de pessoal da empresa. Uma alternativa é considerar 20% do efectivo num período de 3 anos.
No caso das empresas que têm mais de uma centena de trabalhadores, os limites são de 20 trabalhadores ou 15% dos efectivos num ano. No prazo de três anos, o número de funcionários dispensados por mútuo acordo não pode ultrapassar os 40.(...)
Finalmente, a proposta de Vieira da Silva ressalva que o recurso à rescisão por mútuo acordo não deve contribuir para a precarização das relações de trabalho.

Alguém havia de avisar os jovens manifestantes franceses que ainda há paraísos na Europa.

O cantinho deste hooligan

Tenho cachecol, cartão, irresponsabilidade reconhecida e várias camisetas do FC Porto.
Meu Caro Francisco, também eu tenho cachecol, cartão e irresponsabilidade futebolística q.b. para uma família inteira do bairro Santos Nicolau (glorioso vencedor das marchas populares setubalinas).
A camiseta também consta da lista deste hooligan. Está um bocado desbotada e aperta um pouco abaixo do estômago, mas no dia 14 de Maio vai até ao Jamor.
Vemo-nos por lá?

PS - Prometo ao Grande Timoneiro Insurgente que esta é a última posta vitoriana. Hoje.

As ideias têm consequências

O nível de riqueza por habitante em Portugal voltou a cair em 2005, pelo quinto ano consecutivo, face ao valor médio da União Europeia (UE), devendo manter a mesma tendência pelo menos até 2007. Pior: tendo em conta o nível de preços de cada país, o produto interno bruto (PIB) português por habitante foi no ano passado ultrapassado pela República Checa, o segundo dos oito novos Estados-membros do Leste a alcançar resultados melhores que os portugueses, depois de a Eslovénia ter conseguido o mesmo em 2003.

A menos que haja uma alteração estrutural do rumo das políticas públicas portuguesas, certamente que outros países da da Europa de Leste se seguirão e Portugal ocupará já a médio prazo a mesma posição relativa a 25 (ou 27) que ocupava na UE a 15. As ideias têm consequências.

Um Corcunda de parabéns

La lutte continue

Afegão convertido ao cristianismo arrisca condenação à morte

Growing international pressure on Afghanistan to respect the religious freedom of a Christian convert was met in Afghanistan on Friday by a clamor of calls for the man to be executed for denying Islam.

(...)

Rahman was detained last week for converting to Christianity and could face the death penalty if he refuses to become a Muslim again, judicial officials say.

Death is the punishment stipulated by sharia, or Islamic law, for apostasy. The Afghan legal system is based on a mix of civil and sharia law.
(agradeço aos vários leitores que me enviaram links sobre este assunto nos últimos dias)

Projecto Pais Protectores em Moçambique

Leitura recomendada (III)

A «golden-share» não serve para defender o interesse dos consumidores. Nunca serviu. A «golden-share» justifica-se com populismo fácil e serve mais ao Governo do que ao Estado. Serve para neutralizar estratégias empresariais politicamente difíceis de justificar. Para fazer arbitragem de interesses, forçando decisões irracionais que um Governo deseja com contrapartidas noutros sectores, empresas ou governos. Serve ainda para a satisfação de interesses individuais, cunhas e nomeações inverosímeis.

A «golden-share» é a arma dos Governos fracos que não é usada para defender os consumidores fracos – mas os interesses das elites. É uma arma defensiva, de gente medrosa e sem génio, que se afeiçoa à dita porque é mais fácil bloquear do que construir.


Nota: Aproveito para esclarecer que não partilho a opinião, do autor, sobre a necessidade da regulação estatal da iniciativa privada.

Cronistas com agenda

É normal que os políticos se organizem colectivamente. Os solitários não ganham congressos. Mas já é estranho que se exija a quem escreve sobre política que escolha um bando, um colectivo, um clube. Como se fosse inevitável enfiar uma pessoa num grupo para ela poder existir. Como se os textos e as posições não valessem pelo que são: tentativas correctas ou desastradas de compreender a realidade. Aqui há tempos, Pacheco Pereira associou todos os colaboradores da revista Atlântico, nos quais me incluo, às ambições políticas de Paulo Portas. Também me chamaram cavaquista por aquilo que escrevi em defesa da eleição de Cavaco Silva. Este primarismo de extinguir a individualidade de uma pessoa deixa-me sempre siderado.
(via O Acidental)

Problemas internos em crescendo na "esquerda radical"

Sobre o CPE

Muammar Al Qadhafi, o Grande Democrata

Libyan leader Muammar Gaddafi lectured a U.S. audience on democracy on Thursday (...) He touted Libya's political system as superior to "farcical" and "fake" parliamentary and representative democracies in the West."
"There is no state with a democracy except Libya on the whole planet," Gaddafi said to the conference at Columbia University in New York.(...)

Gaddafi said Libya's new openness would not lead Libyans to covet what they do not have -- on the contrary, he said, the rest of the world would soon be emulating Libya.
"Countries like the United States, India, China, the Russian Federation, are in bad need of this Jamahiriyah system," he said. "This is a savior to them."
Challenged by the U.S. moderator about freedom of speech, Gaddafi said every Libyan was free to express his opinions at the congresses and that was a better forum than a newspaper.

[Reuters]

A oportunidade chinesa?

Lukashenko's "democracy"

Police stormed the opposition tent camp in the Belarusian capital early Friday morning, detaining hundreds of demonstrators who had spent a fourth night in a central square to protest President Alexander Lukashenko's victory in a disputed election.

The pre-dawn raid by about 100 riot police brought an end to the unprecedented, days-long protest over Sunday's presidential election in this authoritarian ex-Soviet state.

(...)

Police had been detaining opposition supporters and keeping would-be protesters away from the square, the Organization for Security and Cooperation in Europe tallied more than 200 arrests in the first three days of the protest, but a top police official earlier in the week had said there was no intention to disperse the demonstration.

Cardeal William Levada

Entre os 15 novos cardeais que hoje são investidos nesta dignidade eclesiástica pelo papa Bento XVI encontra-se o arcebispo luso-americano William Levada, que desde Maio de 2005 preside à Congregação para a Doutrina da Fé.

Notas sobre o PSD e o CDS (2)

[O] primeiro-ministro tem a imagem de um homem decidido, que age corajosamente e não evita as escolhas difíceis, ao contrário dos seus antecessores. Na III República, só Cavaco (e Sá Carneiro fugazmente) granjeou essa imagem, com os resultados que ainda hoje estão à vista. Na direita, só um político conseguiu, nos últimos anos, uma imagem semelhante, embora a um nível local e necessariamente mais reduzido: Rui Rio. O PSD e a liderança da direita (a sexy e a puritana) dificilmente lhe escaparão num futuro de médio prazo.

Notas sobre o PSD e o CDS (1)

Mas - pergunto eu - se o dr. Marques Mendes e o dr. Ribeiro e Castro ganharem as directas e o congresso extraordinário não terão de ficar "lá" até 2008? E esta não é a data exacta até à qual - segundo os sábios comentadores e analistas - os críticos internos os pretendem deixar a "grelhar" ou a "cozer"?
Pergunto ainda se será que nenhum dos dois percebeu que se não existirem candidaturas alternativas credíveis, o que é sempre uma possibilidade, pelo menos académica, as actuais lideranças do PSD e do CDS ficarão expostas ao sofrimento acrescido de correrem sozinhas, contra si próprias e com poucos espectadores?

Verde e azul

Leitura recomendada (II)

For years, Yongjin Group has earned a decent profit selling lamps and furniture to the likes of Wal-Mart, Home Depot, Target, and Pottery Barn. But lately the company has seen its margins shrink to 5% -- half what Yongjin made when it opened its factory in the steamy southern Chinese city of Dongguan 14 years ago. Why? Labor shortages are forcing the company to boost wages. Last year salaries surged 40%, to an average of $160 a month, and Yongjin still can't find enough workers. "This business needs a lot of labor," says President Sam Lin. "This is a very tough challenge."

Some 1,500 miles northeast, in the city of Suzhou, Emerson Climate Technologies Co. is facing similar woes. The maker of air conditioner compressors has seen turnover for some jobs hit 20% annually, and Emerson General Manager David Warth says it's all he can do to keep his 800 employees from jumping ship to Samsung, Siemens, Nokia, and other multinationals that are now operating in the tech manufacturing hub. "It has gotten to the point that we are just swapping folks and raising salaries," says Warth.

Wait a minute. Doesn't China have an inexhaustible supply of cheap labor? Not any longer. From the textile and toy factories of the south to the corporate headquarters and research labs in Beijing and Shanghai, the No. 1 challenge today is finding and keeping good workers. Turnover in some low-tech industries approaches 50%, according to the Institute of Contemporary Observation, a Shenzhen labor research group. Guangdong Province says it has 2.5 million jobs that remain unfilled, while Jiangsu, Zhejiang, and Shandong provinces say they, too, face shortages of qualified workers. "Before, people talked about China's unlimited labor supply," says Zhang Juwei, deputy director of the Institute of Population & Labor Economics at the Chinese Academy of Social Sciences in Beijing. "We should revise that: China is facing a limited supply of labor."

Reports of labor shortages first cropped up in late 2004, but companies thought the phenomenon was temporary. Now a surge in both turnover and wage costs is convincing multinationals and their suppliers that the China game is changing permanently. With the gap between wages in China and those elsewhere gradually closing, the pressure to pass price increases on to consumers in the U.S. and other markets will start to build. As Citigroup noted in a February report: "The continuous growth of labor costs in China, even at a moderate pace...is likely to have implications for inflation worldwide." These factors eventually will force the Chinese to upgrade their entire industrial base to make higher-margin goods. And those bigger paychecks are building a consumer class in China that multinationals want to target.

Reformistas "ma non troppo"

O ministro da Administração Interna, António Costa, assegurou a continuação do emprego de mais dezoito boys & girls e respectivas equipas:

Costa puxou os actuais 18 governadores civis ao centro da reforma da administração pública PRACE, ao afirmar: "só os governadores civis podem assegurar um igual peso das diferentes partes que compõem uma região e que a reforma se faz forma equilibrada e coesa, não aumentando as assimetrias dentro da mesma região".

Ou seja, para reformar é preciso manter tudo na mesma. O ministro conta com a ajuda destes homens e mulheres de confiança, deixando de ser meras figuras decorativas e sem relevância na vida dos cidadãos dos respectivos distritos.
Perdão. Engano-me.
São relevantes para as muitas associações locais que recebem as sobras dos concursos e promoções, feitas pelas empresas, porque cabe ao representante do governo central decidir da repartição desse dinheiro bem como de outros subsídios. Deve ser nesse papel, essencial para tais dignitários, que assegurarão a simetria regional.

Repor a verdade

Leitura recomendada

Nova Atlântico: Dia 30 nas bancas

Preparações da ETA para o "cessar fogo"

Según Europa Press, la Policía francesa atribuye a ETA el robo, horas antes de que la banda haga efectivo su "alto el fuego permanente", de una furgoneta en una gasolinera del departamento francés de Cantal. Además, han sido hallados en una granja del sur de Francia unos paquetes con 700 kilos de amonal (aluminio y nitrato amónico) así como 30 detonadores y temporizadores. La semana pasada dos encapuchados que según la policía gala hablaban "francés con fuerte acento español" robaron, también en Francia, 20.000 placas de matrícula y dos troqueladoras.
(agradeço ao leitor Rui Carmo a indicação do link)

23.3.06

Vitória Futebol Clube

Ainda Schumpeter e a Escola Austríaca

O horror, o horror!

Símbolo nacional

Os governos europeus têm promovido a noção de "campeões nacionais".
Empresas que é preciso proteger a todo o custo, tal a sua importância para a soberania nacional. Algumas dessas empresas são mesmo encaradas como símbolos nacionais. Por vezes, são as empresas a pagar o preço desse simbolismo. O que fazer, então, quando um desses símbolos é usado por uma agência da ONU como exemplo de racismo? Aconteceu à dinamarquesa Lego:

The poster shows what looks like one of the company's famous building blocks. It reads "Racism takes many shapes" and shows a picture of a jigsaw puzzle next to a red brick.
It was launched by the UN to mark the International Day for the Elimination of Racial Discrimination.
"We feel that the message of this poster can be interpreted as if we are a racist company," Lego spokeswoman Charlotte Simonsen said.
"I don't know if that's what's intended, but it's definitely one way of interpreting it."

Example
Por coincidência, o cartaz foi tornado público depois da crise dos cartoons que levou aos ataques às embaixadas europeias, a muitas bandeiras dinamarquesas queimadas e à exaltação da rua islamita. A ONU já pediu desculpas pela má interpretação que o poster teve.

Sócrates para 8 anos?

Triumph of the Individual

Leitura recomendada

BE defende liberdade contratual (2)

O BE, com estes principios e coerentemente certamente passará a defender uma radical alteração das actuais leis do trabalho e do arrendamento, apenas para dar exemplos com iguais significativos impactos sociais, seguindo uma via liberalizadora que certamente surpreenderá uma parte significativa do seu eleitorado.
Nota: projecto de lei do BE disponível em pdf (link via Blasfémias).

Da noite para o dia

O homem que era quinta feira

When the truck stopped, they told us to get off in groups of five. We immediately heard shooting next to the trucks. (…) About ten Chetniks [sérvios bósnios] with automatic rifles told us to lie down on the ground face first. As we were getting down, they started to shoot, and I fell into a pile of corpses. I felt hot liquid running down my face. I realized that I was only grazed. As they continued to shoot more groups, I kept on squeezing myself in between dead bodies.
O Miloševic nacionalista tornava-se agora no “monstro,” responsável político por um projecto de extermínio selectivo das populações não sérvias dos territórios a anexar. Mas é aqui que surgem dúvidas e questões de resposta complicada mas crucial para o apuramento das responsabilidades. O massacre de Srebrenica foi prontamente classificado como “genocídio.” Para além das dificuldades semânticas que a utilização do termo coloca e até das dificuldades em determinar com exactidão o número de vítimas, há uma questão crucial: qual a responsabilidade política de Miloševic?

Em Agosto de 1994, Miloševic terá compreendido que não conseguia controlar Karadzic. Cortou relações institucionais com os sérvios bósnios e impôs-lhes um embargo. Se o embargo foi ou não efectivo é difícil de avaliar. Como em tantas outras coisas, a responsabilidade cabe às Nações Unidas: o número total de monitores encarregues de avaliar o embargo fronteiriço era manifestamente insuficiente. Do mesmo modo, quando os sérvios bósnios atacam Srebrenica, um ano depois da ruptura política com Miloševic, esta área era considerada uma “zona segura” pela ONU e supostamente protegida pelo contingente da UNPROFOR. Não existe um argumento aceitável susceptível de estabelecer a responsabilidade política de Miloševic nos massacres de 1995. Quanto a Karadzic e Mladic, esses sim responsáveis políticos e militares pelo sucedido, permanecem com paradeiro “desconhecido.”

O culpado: o sossego hipócrita das vidas tranquilas
O desempenho do Tribunal Criminal Internacional para a Jugoslávia (ICTY) é, no mínimo, equívoco. O comportamento deste tribunal levanta dúvidas quanto à sua imparcialidade e alimenta suspeitas de instrumentalização política. Entre os principais líderes políticos da ex-Jugoslávia, Miloševic esteve “demasiadamente” só no tribunal de Haia. Franjo Tudjman, não menos nacionalista e provavelmente responsável por crimes de guerra, morreu sem ser incomodado pelas instâncias jurídicas internacionais.

Os croatas usaram os mesmos “métodos” que os bósnios sérvios — na ofensiva da Krajina, em 1995, sob a liderança de Ante Gotovina. No entanto, só em 2001 é que o ICTY “conseguiu” acusar Gotovina de crimes de guerra, enquanto que Mladic e Karadzic há vários anos que são acusados de crimes de genocídio.

O caso de Alija Izetbegovic, o líder bósnio muçulmano que declarou a independência da Bósnia-Herzegovina em 1992, contra a oposição dos sérvios bósnios, é ainda mais interessante. Izetbegovic, que também estava sob investigação do ICTY, acusado de responsabilidades no massacre de civis, morreu em 2003, sem que o tribunal de Haia tenha conseguido passar do inquérito.

É pena porque Itzetbegovic, um defensor do pan-islamismo com fortes apoios iranianos e que recusou o acordo elaborado em 1992 pelo embaixador José Cutileiro, conhecido como o “acordo de Lisboa,” teria seguramente coisas muito interessantes a revelar. Em Novembro de 2001, o Wall Street Journal publicava Al Qaeda’s Balkan Links, um artigo fundamental para se compreender as implicações geopolíticas do conflito balcânico (destaques adicionados):
For the past 10 years, the most senior leaders of al Qaeda have visited the Balkans, including bin Laden himself on three occasions between 1994 and 1996. The Egyptian surgeon turned terrorist leader Ayman Al-Zawahiri has operated terrorist training camps, weapons of mass destruction factories and money-laundering and drug-trading networks throughout Albania, Kosovo, Macedonia, Bulgaria, Turkey and Bosnia. This has gone on for a decade. Many recruits to the Balkan wars came originally from Chechnya, a jihad in which Al Qaeda has also played a part.
A embaixada bósnia em Viena emitiu um passaporte para o “cidadão” Osama bin Laden; os “libertadores” kosovares são também agricultores de reputação internacional (destaques adicionados):
The overnight rise of heroin trafficking through Kosovo —now the most important Balkan route between Southeast Asia and Europe after Turkey— helped also to fund terrorist activity directly associated with al Qaeda and the Iranian Revolutionary Guard. Opium poppies, which barely existed in the Balkans before 1995, have become the No. 1 drug cultivated in the Balkans after marijuana. Operatives of two al Qaeda-sponsored Islamist cells who were arrested in Bosnia on Oct. 23 were linked to the heroin trade, underscoring the narco-jihad culture of today’s post-war Balkans.
E o papel dos EUA em tudo isto?
It was not until 1995 that the Clinton administration was forced to start pursuing the Islamist network in the Balkans. Not quite a month after the Dayton accords had been signed in November 1995, an influx of Iranian arms came into Bosnia with the apparent tacit approval of the administration, in violation of U.N. sanctions. While publicly pressing Bosnian President Alia Izetbegovic to purge remaining Islamist elements, the administration was loath to confront Sarajevo and Tehran over their presence.
Madeleine Albright bem avisou que os EUA eram a “nação indispensável.” De facto, sem a prestimosa ajuda da incompetente administração Clinton, um santo do multilateralismo institucional, dificilmente o jihadismo teria alcançado as proporções que tem hoje, como maior ameaça global à segurança internacional. Claro que William Clinton, terá visto papeis, mas não sabia; tal como fumou mas não inalou.

É ainda necessário considerar a questão dos custos da justiça. Ao longo dos treze anos de funcionamento, o ICTY já gastou mais de 1,2 biliões de dólares. Até agora foram proferidas 51 sentenças: 43 condenações e 8 absolvições. Isto significa que cada sentença custou, em média, 23,5 milhões de dólares. Acha caro? Num artigo publicado na edição de Março/Abril da Foreign Policy, Helena Cobban apresenta números comparáveis para o Tribunal Criminal Internacional para o Ruanda (destaques adicionados):
As of November 2005, the ICTR had handed down judgments for only 25 individuals. More than $1 billion has been spent on the tribunal so far, or about $40 million per judgment. By contrast, South Africa’s truth commission processed 7,116 amnesty applications for less than $4,300 per case. In postconflict Mozambique, programs to demobilize and reintegrate thousands of former combatants cost about $1,000 per case. Rwandan community leaders aren’t shy about saying that the more than $1 billion the United Nations has so far poured into the ICTR could have been better spent.
Em discurso proferido na Goldman Sachs de Londres, em 6 de Outubro do ano passado, Carla del Ponte, procuradora do ICTY, afirmava (destaques adicionados):
Actually, an international organization tasked with bringing peace, security and justice costs money, and where are the profits? Preventing wars or bringing justice doesn’t fill the UN or anybody’s bank accounts. However, it creates savings. They are difficult to measure in Euros, dollars or pounds, but they are there. How do you quantify the human suffering that did not happen because a conflict was avoided? And the destruction? And the victims’ desire for revenge which is so often the origin of new cycles of bloodshed? Those gains are immaterial, but they are worth more than any company’s yearly earnings!
Vale a pena ler o artigo de Helena Cobban, para se dispor de uma avaliação lúcida da (in)capacidade dos tribunais internacionais em cumprir tão altos objectivos, a troco de tão ridículas ninharias...

A verdade é que as instâncias jurídicas internacionais não fizeram justiça — Miloševic morreu sem ouvir uma sentença. A “selectividade” dos procedimentos criminais do tribunal de Haia não contribui nem para a paz, nem para a estabilização balcânica, pelo contrário: acentua a assimetria das responsabilidades sérvias e ajuda a criar uma imagem diabólica de um —com a correlativa desculpabilização de muitos.

O nacionalismo sérvio nunca foi tratado em pé de igualdade com o nacionalismo croata, ou com o nacionalismo albanês. Este último, consubstanciado no objectivo da “grande Albânia” está prestes a receber mais uma ajuda do inconsciente mandarinato europeu: o The Economist sugere que as negociações para um eventual acordo de associação entre a Sérvia e a União Europeia, a reiniciar no próximo dia 5 de Abril, poderão levar a uma exigência de independência do Kosovo.

Esta ideia tem tanto de imoral como de perigosa; o Kosovo é uma parte constitutiva da identidade histórica e geográfica da Sérvia e a eventual independência irá acentuar o ressentimento dos sérvios. A “independência” é um manto diáfano de fantasia delirante, com que os burocratas comunitários pretendem ocultar a garantia de sucesso de uma luta semelhante àquela que foi encetada pelos bósnios sérvios. Com uma diferença importante: a luta pela independência do Kosovo foi classificada como jihad pela Conferência Islâmica.

Miloševic está morto e enterrado. Muitos dos impunes e alguns politicamente iludidos continuam por cá. Nem que seja só por isso, são certamente mais perigosos.

The Secret Straussian Handshake and other secrets of the VRWC

Hank Williams said it best

As angústias de Miguel Sousa Tavares

No Expresso de há quatro dias, Miguel Sousa Tavares abriu-se ao país, dando conta das suas angústias. Achou-se «estúpido» perante a suposta euforia de um governo socialista face ao putativo dinamismo do sector financeiro e empresarial português – o qual, aparentemente, está vivo e recomenda-se, a avaliar pelas hostis mas excitantes OPAs (já duas, vejam bem). Miguel Sousa Tavares vê no exercício uma fatal contradição, senão de termos, pelo menos de princípios. Provavelmente, o jornalista-de-opinião não terá percebido que o socialismo, «esse» socialismo, não é o que, a ocidente, chega ao poder. A estirpe que chega ao poder, de «socialismo» já tem pouco. Graças a Deus, acrescentaria eu, pese embora os efeitos destrutivos que esses resquícios ainda por aí provocam, em sede de equilíbrio orçamental, divida pública, dependência face ao Estado-paizinho, etc.

Mas tem o comentarista razão quando, analisando as «idiossincrasias» (chamemos-lhe isso) do «mercado», coloca o dedinho na ferida, referindo-se à iniquidade do mesmo. Ou seja, de um mercado que nunca esteve a salvo de distorções, regras e esquemas mais ou menos obscuros, quase sempre com o patrocínio do Estado, a aquiescência dos partidos (clientes dilectos) e o aplauso dos «grandes» empresários (que adoram chupar na teta da vaquinha dos proteccionismos e dos apoios ao «tecido empresarial»).

22.3.06

Ameaça ao investimento

o Parlamento [francês] aprovou uma lei que pode travar o domínio da [Apple] no mercado da venda de música online, no qual detém uma quota de 70%. A nova lei obriga a Apple a permitir que os seus ficheiros de música sejam lidos por outro tipo de programa que não aquele que a empresa comercializa - o programa de computador iTunes apenas fornece músicas para os iPod. A legislação afecta também as concorrentes Microsoft e Sony. Ao contrário do que acontece até agora, todas terão de deixar de usar o sistema de protecção e permitir que as músicas vendidas na Internet tenham um formato aberto. E terão de fornecer um código que permita a conversão para outro formato.
A Apple investiu milhões para desenvolver um sistema funcional e atractivo para os consumidores. A maioria destes, conhecedores das restrições tecnológicas do programa iTunes, decidiram, mesmo assim, de livre vontade, adquiri-lo.

Agora o Governo francês veio destruir o investimento da empresa americana. Da próxima vez que uma empresa de software desejar desenvolver num sistema proprietário tem pensar duas (três) vezes. Talvez acabe por não investir...

Adenda: ler post do AA sobre o assunto.

BE defende liberdade contratual

O Bloco de Esquerda apresenta hoje um projecto de lei que inclui no Código Civil a possibilidade de divórcio a pedido de um dos cônjuges. A legislação actual admite apenas o divórcio por mútuo consentimento e o litigioso, que pode ser requerido quando um dos cônjuges "violar culposamente os deveres conjugais", tiver as faculdades mentais alteradas ou quando houve separação de facto. O diploma do BE "estabelece um regime que acaba com a necessidade de haver mútuo acordo para que as pessoas se possam divorciar".
[DN]

Porca miséria

O montado alentejano está a ser alugado pelas poderosas empresas espanholas de porco-preto. Tudo porque no território deles já não há espaço para tanta produção. A Associação de Criadores do Porco de Raça Alentejana (ACPRA) estima que meia centena de proprietários de terrenos na zona da raia já cederam áreas de sobro e azinho, a troco de cem euros por cada porco. O negócio rende, em média, mais de 10 mil euros por ano, mas é criticado pela produção nacional, que reivindica que o animal seja transformado em Portugal.

(...)

José Cândido [presidente da ACPRA] revela ainda não serem só os espanhóis que estão a alugar montado no Alentejo, há produtores portugueses com excesso de animais que apostam nesta modalidade. "O problema é que o poder económico das empresas espanholas lhes permite oferecer mais dinheiro pela ocupação das terras, deixando os portugueses de fora da corrida", sublinha.

[DN, meus destaques]
Qual a solução da ACPRA?
  1. Obrigar os proprietários alentejados a baixar os preços;

  2. Proibir o aluguer dos montados a empresas espanholas;

  3. Subsidiar, via impostos, os produtores portugueses;

  4. Financiar, via impostos, os proprietários alentejanos para investimento em produção nacional.
PS: como consumidor e contribuinte quero o melhor presunto de porco-preto pelo preço mais baixo. Espanhol ou português, tanto me faz!

Os extremos atraem-se

Los símbolos y la indumentaria de los jóvenes neonazis alemanes se ven invadidos por la efigie del revolucionario argentino, banderas rojas y pañuelos palestinos

El fenómeno llama la atención desde hace varios años: en las manifestaciones de neonazis alemanes hay cada vez más banderas rojas, pañuelos palestinos y camisetas con la efigie del Che Guevara. Si bien es cierto que por ejemplo la ultraderecha de Jean-Marie Le Pen en Francia no le hace ascos a una retórica antiimperialista que distinguía antes a la izquierda revolucionaria, en la mayoría de países europeos sigue predominando el clásico cabeza rapada. En Alemania, lo que a primera vista puede parecer una ensalada ideológica muy mal aliñada va en realidad mucho más allá de la anécdota y responde al cambio de estrategia de un movimiento neonazi cada vez más dividido, que busca consolidarse en la sociedad civil y ampliar su influencia política.
[via My Guide to your Galaxy]

Omissão ou Conivência?

"A Nação assistiu, estarrecida e revoltada, às cenas de vandalismo e selvageria da destruição das mudas de eucaliptos por parte de um grupo de mulheres da organização Via Campesina, entidade estrangeira ligada ao MST, em um espetáculo de violência gratuita que precisa ser não apenas devidamente repudiado pela sociedade, como, exemplarmente punido para demonstrar que o país ainda vive em um Estado de Direito.
(...)
A omissão do governo em relação às invasões de propriedades, anunciadas pelo MST com antecedência, sem que nenhuma providência tenha sido tomada para impedi-las ou para punir aqueles que publicamente defendiam e incitavam as ações ilegais, vem estimulando a ousadia desse movimento, que já se sente suficientemente forte para ações desse tipo, que extrapolam o discurso falso com que se apresentava no início de suas atividades.
(...)
É lamentável constatar que a posição do governo em relação à esses grupos tem ido da simpatia e do estímulo do presidente Lula, que recebeu em palácio seus líderes e colocou o boné do movimento, à completa omissão e, até, parcialidade, dos órgãos federais de segurança, que se preocuparam em conter a 'violência legítima' daqueles que procuram defender sua propriedade desarmando-os, sem tomar qualquer providência com relação à violência das invasões."

Guilherme Afif Domingos, "Basta! Chega de omissão!"

(via Mídia Sem Máscara)

Mais do que uma simples omissão, trata-se de uma política sistemática de punir as vítimas e passar a mão na cabeça dos criminosos. Típico de governos com essa orientação...

Sobre o vazio da direita portuguesa

Órfãos e sem razão de ser, os partidos à direita da esquerda resolveram transformar-se. Muito bem. Se a simples viabilização do Estado Social é agora a causa do eng. Sócrates, talvez valesse a pena explorar outros horizontes, como por exemplo um outro modelo social, assente na responsabilidade individual e participação cívica dos cidadãos. Se os antigos líderes são agora colaboradores do eng. Sócrates, era tempo de aparecer uma nova vaga, disposta a empenhar-se, sem medo e desde já, no trabalho difícil de arranjar uma alternativa ao eng. Sócrates. Não é, porém, isto que se vê. Ninguém, à direita, apresenta projectos políticos, e toda a gente concorda que é ”muito cedo” para disputar abertamente a liderança.

(...)

As elites do PSD e do CDS não se prestigiaram na oposição ao eng. Guterres, e saíram desacreditadas dos governos de 2002-2005. Mas o truque de promover o dr. Santana a bode expiatório poupou a todos o trabalho de perceber o que correu mal. Ninguém, assim, aprendeu nada. Para criar uma alternativa ao eng. Sócrates, convinha começar desde já a definir orientações, trabalhar em políticas, convencer os cidadãos. Três anos não são muito tempo – para quem tem grandes projectos e grandes ambições. Por isso, quando vemos as elites do PSD e do CDS proclamar que ”é muito cedo”, uma coisa se torna claro: não há ali líderes, mas apenas seguidores; não há ali ideias, mas apenas truques. De que estão à espera? De um golpe de secretaria na véspera das eleições de 2009, para depois fazerem, à pressa, uma campanha eleitoral com meia dúzia de ‘sound bites’ que ninguém levará a sério? Ou já deram por perdidas as eleições de 2009, e só contam com o dia seguinte? Talvez não seja cedo: talvez seja é demasiado tarde.

Se

A vergonha francesa (2)

Está confirmado

A vergonha francesa (1)

O dilema existencial do CDS

As instituições - todas as instituições - mais tarde ou mais cedo extinguem-se e o CDS não será certamente excepção a esta regra. Os que por lá vão tendo ainda algumas responsabilidades e os seus poucos militantes activos talvez devam perguntar-se se ainda se justifica manter um partido que continua sem uma ideologia clara, sem um programa que o diferencie do «grande centrão», sem nada de especificamente distintivo em relação ao PSD, a não ser uma imensa capacidade de arranjar pequenas histórias que não interessam a ninguém. E devem estar cientes que, desta vez, é pouco crível que o seu partido consiga sobreviver a outros vinte anos de jejum.

Destruição Criativa

O pensamento económico de Schumpeter - e, bem assim, o da generalidade dos autores modernos da Escola Austríaca - funda-se numa visão dinâmica do capitalismo, ou seja, vê na mudança e no processo evolutivo as principais fontes de criação de valor. A «destruição criativa» é assim a síntese desta dinâmica, o resultado de todo este processo de substituição das formas de consumo, da produção industrial, da tecnologia, da organização da sociedade, da empresa e dos mercados; dinâmica essa que conduz à eliminação das fórmulas «velhas» por novas soluções.

Concordo com o RAF quanto ao essencial e tema central do post mas julgo que importa assinalar que a inclusão de Schumpeter na Escola Austríaca é controversa (Rothbard, por exemplo, via-o como um walrasiano heterodoxo). Pessoalmente, acho que Schumpeter incorpora alguns elementos da Escola Austríaca e outros mais neoclássicos pelo que os dois lados da controvérsia são defensáveis.

Insurgente vs Terrorista

Maquilhagem biográfica

Nascido a 29 de Agosto de 1941 em Pozharevatse, na Sérvia, Milosevic licenciou-se em Direito na Universidade de Belgrado e fez o seu percurso político na Liga dos Comunistas Jugoslavos. Em 1987 encabeça a União dos Comunistas da Sérvia e dois anos depois é eleito presidente da Sérvia, cargo para que é reeleito em 1992. Em 1997 torna-se presidente da Jugoslávia.
Como presidente da Sérvia e da Jugoslávia, assistiu impotente ao desmembramento da Federação jugoslava. Após o ataque dos EUA/NATO, entre Março e Maio de 1999, e da capitulação de Belgrado em 9 de Junho, Milosevic perde as eleições de 2000. A 29 de Junho de 2001 é raptado pelos EUA do próprio país e levado para Haia, acusado de «crimes de guerra».
Sugestão: ver, por exemplo, biografia de Milosevic no Wikipedia.

Pontos de Fuga

Os Senhores do Cifrão

Uma das primeiras críticas que os argumentos liberais enfrentam, é o da hiper valorização da liberdade económica na definição e concretização de políticas liberais ou liberalizantes. Quando confrontada com outras liberdades, como a política ou social, a liberdade económica tende a ser desvalorizada sob a aparência de aspecto menos digno ou menos humano da nossa natureza. A dimensão política, cultural e social assumem, pelo contrário, um lugar cimeiro e muito citado na hierarquia das preocupações civilizacionais. Neste prisma, os liberais são encarados como homezinhos do cifrão, preocupados apenas com números e desligados das preocupações inerentes a uma completa e integral realização da dignidade da pessoa humana.

A verdade é que, como salientou Friedman, a influência da liberdade económica sobre todas as outras dimensões do homem é tão importante e essencial, que pode dizer-se que a liberdade política, social e cultural é incompatível com restrições inadmissíveis da liberdade económica. Uma visão de política comparada permite afirmar que os países que preferiram derivas economicamente estatizantes se caracterizaram, na sua esmagadora maioria, por serem países politicamente autoritários, totalitaristas ou donos de frágeis democracias.
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Uma sociedade assente na liberdade económica, num mercado livre e aberto, sem constragimentos artificiais, permite um robustecimento da iniciativa privada e um fortalecimento da capacidade interventora dos indivíduos. Se cada um puder despender os seus esforços onde, como e quando quiser, com as restrições inerentes às colisões de liberdades, todas as áreas da vida política, social e cultural passam a amplificar o seu objecto e âmbito. Deixaremos de ter apenas um meio de comunicação, uma cadeia de supermercados, uma igreja, um banco... em suma, deixamos de ter apenas um ou dois fornecedores por cada área de intervenção. E se assim é, deixa o Estado de poder impor um modelo, uma ideologia, uma particular visão sobre o Mundo e sobre o que deve ser a vida em sociedade. Alcançando o domínio económico, o Estado alcança também e por consequência o domínio político, social e cultural.

Em países com liberdade económica satisfatória, o Estado não tem capacidade de impor a censura, de coarctar direitos civis, de violar os direitos humanos ou de se aventurar em devaneios totalitários. E se o fizer, se arriscar, rapidamente a liberdade económica se encarrega de encontrar outros titulares do poder. Não havendo só jornais oficiais, bancos oficiais, igrejas oficiais ou teatros oficiais, muito dificilmente o Estado poderá desviar-se no sentido do autoritarismo ou de assim permanecer durante décadas.

Por outro lado, uma sociedade livre economicamente encontra novas necessidades e novas perspectivas às quais quer dar seguimento. São novos livros, novas técnicas, novas filosofias, novas abordagens, que despertam uma consciência crítica, de inovação e de desafio. Para as poderem seguir, os indivíduos necessitam de liberdade política, cultural e social. São os próprios “homens economicamente livres” que, em pouco tempo, passam a exigir uma liberdade ampla e total. Não é possível dizer a um indivíduo que pode investir na publicação do que quer que seja, sem quaisquer entraves, e depois impedi-lo de publicar ideias distintas das do regime. Não é possível abrir o sector da comunicação social e manter uma ideologia oficial. Além disso, as estatísticas têm confirmado regularmente a prosperidade que advém da liberdade económica. É essa liberdade, que permite ao indivíduo saciar as suas necessidades básicas e evidentes e depois alcançar novos estádios de progresso, podendo dedicar mais tempo e esforços a outras necessidades e à resolução de outros problemas. Evidentemente que há excepções a este estado de coisas, e poderemos falar delas, no seguimento deste post.

O que eu gostaria de trazer aqui, no seguimento do que eu já disse na minha casa, é que os liberais não são desumanos nem pretendem ser os homens dos cifrões, com um coração de tio Patinhas em forma de moedinha n.º 1. Para já, porque o mercado aberto é um espaço de liberdade, sem coacções, composto única e exclusivamente por acções humanas, sendo por isso conatural à existência humana, derivando directamente da nossa identidade. E depois, porque acreditamos seriamente que há uma íntima relação entre a liberdade económica e a prosperidade económica, social, política e cultural.
A liberdade económica, como prioridade, demonstra por isso, uma atenção particular às necessidades de realização integral do indivíduo. Os liberais apenas entendem que é a liberdade económica o caminho mais seguro e mais eficiente para uma sociedade mais próspera, onde se realizem as dimensões de liberdade de cada um. Não será, por isso um discurso fácil, e implica muitas vezes o recurso a estatísticas, a números, a demonstrações factuais. Mas é, pelo menos, um caminho concreto e apurado, que não pode ser criticado com recurso a pré-compreensões ou derivas demagógicas.

Trampolinada (The return of)

Há uma nova polémica sobre o MIT, desta vez envolvendo dois ministros que têm versões diferentes sobre o mesmo tema.
Primeiro, disse o ministro da Economia que não existe um acordo entre o Governo e o Instituto Técnico de Massachussets, apenas um protocolo.
Depois, o ministro da Ciência e Ensino Superior, à RR, garante que esse acordo existe.

Lembram-se da irritação pública de Sócrates com a pergunta, feita por um ex-responsável por chocar tecnologicamente o país, sobre a eventual descoordenação inter-ministerial neste assunto?
Noutros tempos isto seria mais uma trampolinada. Na realidade não deve passar, provavelmente, de uma questiúncula sobre quem vai receber os louros e a quem vai caber distribuir as benesses dos possíveis projectos que o MIT venha a implementar. E tudo ainda não passa de intenções.
Mais um exemplo da vontade que os ministros sempre mostram de deixar obra feita.

Divertimentos públicos

O slogan "Bush, fascista, és tu o terrorista", que ouvi a um grupo de mal cheirosos que por meu azar por mim passavam em direcção à festa, não é um acto puro e simples de propaganda, bastante desculpável se o fosse. Antes, é um programa político perfeitamente reconhecivel: antes de tudo o resto, o nosso inimigo é os Estados Unidos, posição usualmente apelidada de anti-americanismo.

As pessoas que animam estes divertimentos públicos não estão preocupadas com o sofrimento humano, com os direitos humanos, com os equilibrios geoestratégicos, com a economia, com a democracia. Se estas pessoas se mobilizassem por a mais ínfima partícula destas nobres causas, teriamos que ter visto muito mais manifestações durante estes anos, quando mataram o milhão no Ruanda, meio milhão no Sudão, dois milhões no Zaire, trezentos mil na Argélia, cento e tal mil na Jusgoslávia. Quantas manifestações vimos por estas causas? Os cidadãos do Aspirinab, em quantos esforços participaram por estas pessoas? Andaram caladinhos que nem uns ratos e a ocupar o tempo com idas à Cinemateca porque se tratavam de pretos a sofrer? Ah, calma, não deve ser por isso, não me lembro de nada pelo Sri Lanka, contras as brincadeiras entre a China, a India e o Paquistão, ou pelas obras de terraplanagem que a Rússia levou a cabo em Grozny.
N'A Causa Foi Modificada.

Aviso ao prospector

Que o estado abandone o princípio de titularidade do sistema social para se dedicar progressivamente ao financiamento da escolha dos cidadãos é um modelo intermédio entre o socialista e o liberal. Admite que os custos do sistema social continuem a ser suportados pelos contribuintes, de acordo com os princípios de redistribuição de rendimentos que estejam em vigor. Até admite que as comparticipações inviduais sejam discriminadas por critérios sociais. Mas devolve às pessoas uma liberdade negada por décadas a fio de modelos únicos estatais.

Esta reforma possibilitaria libertar os serviços públicos de funções que os privados desempenham melhor, tornando a administração pública menos agressiva ao bolso dos contribuintes.
Não necessariamente caro AA! Os cidadãos que, actualmente, são forçados a recorrer a serviços privados passariam, no sistema sugerido, a faze-lo à custa do Estado. Tal reforma traria, portanto, ainda mais utentes para o sistema estatal...

A redução de impostos só ocorreria se os ganhos derivados da maior concorrência fossem superiores ao crescimento dos serviços prestados pelo Estado.

21.3.06

As OPAs podem fazer mal à saúde

Egotismos

Are the French Happy with the 35-Hours Workweek?

Aiming at lowering unemployment, the French government mandated the reduction of the standard workweek from 39 to 35 hours in 1998 to be implemented in large firms by 2000 and in small firms by 2002. The difference in timing by firm size is used to set up a quasi-experimental design to analyze the effect of the law on workers’ welfare. The law may have worked as a coordination mechanism to improve welfare in the presence of strong positive complementarities in leisure among individuals, or it may have introduced distortions and made workers worse off. Estimates from the French Labor Force Survey for the years 1993 to 2000 suggest that the law did not make workers happier. The 35-hours mandate increased the proportion of dual-job holdings and the transitions from large to small firms, which may have been motivated by the desire to work more hours. Estimates using data on subjective satisfaction with hours of work from the Eurobarometer suggestthat those who were affected by the law became less satisfied with their hours of work. The law also increased wages in large firms relative to small firms to compensate workers for the reduction in hours and keep the same monthly income. As a result, large firms replaced some workers with cheaper unemployed individuals. The net employment effect is harder to quantify, but the estimates suggest it was not significant.

Virou-se o feitiço ...

A traição

Bielorússia

It is clear that this election did not meet OSCE commitments and international electoral standards. The arbitrary abuse of state power, obviously designed to protect the incumbent President, went far beyond acceptable practice. The incumbent President permitted State authority to be used in a manner which did not allow citizens to freely and fairly express their will at the ballot box.

Tort law

O Ministério da Justiça quer que o cidadão possa não só pedir indemnizações ao Estado, mas também a funcionários públicos, sempre que haja um incumprimento legal que lhe crie prejuízo. É a proposta de lei da Responsabilidade Civil Extracontratual do Estado (...)
A maior novidade é o alargamento da responsabilidade aos funcionários.(...)Agora, a culpa do Estado é sempre presumida e cabe-lhe provar o contrário.

[RR]
Não me parece nada mal a clarificação dos procedimentos para que os cidadãos possam ser compensados por prejuízos causados pelos serviços do estado. O que me preocupa é saber que não existem intenções políticas claras de diminuir a presença do aparelho público e dos seus poderes de intervenção. Sem isso, não se diminui o risco de um dos seus agentes decidir ou actuar de forma a que mais tarde o estado seja considerado culpado de causar prejuízos aos cidadãos ou empresas (como no caso da AirLuxor). E já sabemos de onde virá o dinheiro que o estado poderá pagar como indemnização.

(altamente) recomendadado


1. Duplicar o salário mínimo. Mais dinheiro a circular na economia, mais consumo, mais procura, mais emprego (agradeço esta dica a Odete Santos).

Cartoon Jihad faz mais uma "baixa"

O Rapto da Europa

20.3.06

Os estranhos critérios da Comissão de Trabalhadores da PT

«Contrariamente ao que a Sonaecom diz, esta operação, a concretizar-se, vai aumentar a concentração e a posição dominante da nova empresa Sonaecom/PT. A situação concorrencial irá piorar», refere o documento, salientando que, no mercado móvel, ao ser proposta a fusão entre a TMN e a Optimus, estará a criar-se um caso único na Europa, em que se passa de 3 para 2 operadores.

No que diz respeito ao mercado de conteúdos, a CT da Portugal Telecom considera que «o pouco que é alterado, piora», porque a Sonaecom também tem posição nos conteúdos, nomeadamente o jornal Público, Rádio Nova e outros activos, o que aumenta a concentração.

e isto:

O comunicado chama ainda a atenção para o facto de o desmantelamento do Grupo PT, nomeadamente a venda de uma das redes fixas, abrir a porta de entrada de novos operadores internacionais no mercado nacional, «aproveitando a debilidade do operador nacional».

Para a Comissão de Trabalhadores da Portugal Telecom a OPA da Sonae sobre a PT é negativa porque pode conduzir ao aumento da concentração e também porque pode incentivar a entrada de novos operadores internacionais. Ou seja, a diminuição do número de operadores é negativa mas o aumento também. Parece que boa mesmo, só a situação actual. Porque será?

Yale admits former Taliban official

The two most dysfunctional management cultures I know of right now are the Bush White House and Yale University. From Katrina to Harriet Miers to Dubai, Team Bush is showing signs of being insular, burnt out, and desperately in need of new talent. The White House is also beset by an increasing number of leaks, the clear result of people frustrated that the higher-ups don't appear to be listening.

The president's alma mater is experiencing a similar flood of leaks, as the community there reacts to omertà the university has practiced in refusing meaningful comment on its admission of a former top Taliban official, Sayed Rahmatullah Hashemi. Beyond a single vague 144-word statement (later expanded to 281 words, including a defense of Yale's not hosting a ROTC program), Yale won't let anyone comment officially, citing student privacy issues and hoping they can keep silent and last out the storm.

A extrema esquerda e o regime iraniano

O CPE não chega

A CPE não passa duma fraca tentativa de tratar um cancro com aspirina. A polémica sobre o Contrato do Primeiro Emprego tem passado muito ao lado de uma das questões mais relevantes: a falta de liberdade contratual no mercado de trabalho cujas consequências mais evidentes são salários mais baixos e desemprego.

Será que se curam os males do Socialismo com mais Socialismo?

O falhanço do capitalismo para garantir as condições de vida para a maioria da população precisa de justificações ideológicas que proporcionem o consenso subjugado das grandes massas: nada como convencer um desempregado, que é para seu bem que vive na miséria…

(...)

A situação dos jovens franceses é a esse respeito bem elucidativa da cegueira destas mezinhas ideológicas, disfarçadas de medidas económicas.
1. A taxa de desemprego dos jovens até 30 anos atinge 30% (nos subúrbios chega aos 60%). Para comparar é preciso revelar dois factos: a taxa de desemprego dos trabalhadores com mais de 50 anos é de 7,7% e em 1970, a taxa de desemprego dos jovens era só de 4%. Vinte anos de políticas, cada vez mais, neoliberais resultaram mais 20% de desemprego.
2. Enquanto o poder de compra médio da população francesa cresceu regularmente nestes últimos 20 anos, o da população com menos de 35 anos desceu 5%. Pela primeira vez, ganha-se mais reformado aos 66 anos do que a trabalhar entre os 30 e 35 anos. Segundo as estatísticas existem 600 000 jovens pobres em França.
3. Em 1975, a taxa de desemprego entre os licenciados e baixareis era de 6%, hoje em dia, ela ultrapassa os 25%.
4. Em 1982, a média etária dos representantes políticos e sindicais era de 45 anos; em 2006, é de 59 anos. As políticas são velhas e o poder está caduco.

Nuno: a França, nos últimos quarenta anos, não assumiu nenhuma solução liberal em matéria laboral e de Previdência. O falhanço de que falas em França - e está de facto muito bem descrito - é o do Socialismo, e não do Liberalismo: assalto geracional dos mais velhos aos mais novos, incapacidade de renovação do tecido produtivo, sociedade envelhecida que apenas se preocupa com a segurança, ignorando que para catapultar os ganhos é necessário promover uma cultura de risco, proletarização dos emigrantes em favor do Estado Social. Os fenómenos de globalização têm desmatelado muitas das situações fictícias de base socialista construídas ao longo de décadas, parcialmente financiadas à custa da pobreza do mundo. Estes ajustamentos que as sociedades mais proteccionistas estão a sofrer são socialmente dolorosos, dor essa que se acentua sobretudo porque se procura aliviar o sofrimento com receitas e soluções à base de Aspirinas B's (não sei como se curam doentes com arsénico...).###

Mais:

A inépcia da política económica neoliberal é total. O famoso Consenso de Washington sistematizado pelo FMI, Banco Mundial levou à bancarrota Argentina e à destruição de grande parte da economia da América Latina.
Meu caro Nuno: a agonia da América Latina não resultou das políticas liberais, mas sim do proteccionismo (marcadamente anti-liberal) dos países desenvolvidos - entre os quais a França e os EUA - que sempre asfixiaram as economias em desenvolvimento. No caso particular da Argentina, o erro - fatal - resultou da má arbitragem da dívida, excessivamente alocada ao dólar, sem a devida cobertura cambial.

Podem os «acólitos» do Socialismo pregar as suas ideias místicas, mas a realidade encarrega-se de os contrariar. A «protecção» do emprego ajuda apenas os que estão no mercado de trabalho e aí se mantêm ficticiamente, escudados por artifícios jurídicos, em prejuízo e potenciando o empobrecimento dos mais jovens, que não têm por isso a possibilidade de demonstrar o seu valor: o que «pesa» mais aos 26 anos, não será a possibilidade de ter um trabalho onde possam atestar a sua competência e a sua mais-valia? Ou devem os jovens no mundo de hoje começar logo a vida activa obcecados com a «segurança»? Haverá no século XXI sociedades sem risco?

Rodrigo Adão da Fonseca