15.4.06

Novidades blogosfericas

Polémicas literárias e tradução...

Ao recuperar estes Conselhos…, o poeta Jorge Melícias não se limitou a traduzir com pouco esmero – e alguns erros de palmatória – um texto menor e quase juvenil de Baudelaire (publicado em 1846, quando o autor de As Flores do Mal andava pelos 25 anos). Ao desmascarar o “escritor maldito” que se revela um “burguês usurário e sem escrúpulos, alguém que confunde literatura com licitação, poesia com juros”, Melícias pretende apenas atingir, por interposta figura tutelar, a corrente estética da poesia portuguesa contemporânea oposta à sua. Raras vezes li ataque tão insidioso, tão desonesto e tão cobarde.
Como se pode depreender da minha introdução, não faço ideia a que escola pertencerá o poeta Jorge Melícias, nem qual será a escola de poesia portuguesa contemporânea oposta. Por isso, esse aspecto não ime interessa muito. Prefiro antes destacar a questão da acusação de tradução pouco cuidada e com erros de palmatória.

Jorge Melícias, no texto mencionado, já deu a sua resposta. O que me leva a escrever agora é apenas o de, por uma vez mais notar, que se fazem críticas à tradução com acusações genéricas, rotula-se a tradução e passa-se à frente.

Como tradutor profissional sou sensível a críticas às traduções. Embora profissionalmente não pratique a tradução literária, a questão da avaliação de uma tradução é substancialmente a mesma, quer se trate de tradução literária ou outra qualquer. E a minha questão é: quais foram os critérios que JMS utilizou para dizer que a tradução é descuidada e tem erros de palmatória? É que gostava sinceramente de saber que critérios utilizou. O simples apontar aqui e ali de erros ou supostos erros não pode ser um critério de avaliação de uma tradução. O quadro de avaliação de uma tradução tem que ser muito maior do que esse.

Thomas Hüsgen no seu texto "Coerência textual e tradução", in Da Língua e do Discurso, afirma:
[...] a tradução representa um caso específico de comunicação textual, visto que o tradutor, como intermediárion entre línguas e culturas, acaba por transmitir uma interpretação sua ao público leitor de chegada [...]. A comunicação entre texto de partida e leitor da língua de chegada passa, por assim dizer, através do filtro da compreensão específica do próprio tradutor.

Este trabalho exige do tradutor uma capacidade mental específica que lhe permita, por um lado, estabelecer uma relação quase espontânea entre texto de partida, sua função comunicativa e social e seu conhecimento das culturas em contacto e que, por outro lado, para além disso, avaliar o tipo de informação que terá que ser acrescentada ou, pelo contrário, possa ser pressuposta.

Acaba por ser a capacidade do tradutor de apreender e transmitir o texto no seu todo e como todo, no sentido da hermenêutica moderna, que permite, por sua vez, ao receptor do texto de chegada activar através da integração do seu conhecimento linguístico, pragmático e interaccional os padrões associativos adequados à situação comunicativa"
Tudo isto para dizer que a tradução não é uma mera transcrição de um texto de uma língua de partida para um texto na língua de chegada. Nem na tradução literária, nem em qualquer outro tipo de tradução. Thomas Hüsgen, na conclusão do seu artigo, depois de analisar vários exemplos a partir de uma tradução alemã do livro Fanny Owen de Agustina Bessa Luís, diz não estar a fazer uma crítica, pois os exemplos eram poucos em quantidade e qualidade, afirmando antes:
Devem estes exemplos, muito mais, realçar a importância de uma formação de tradutores (e de produtores de texto em geral) que [...] assegurem, através da exigência de uma coerência intertextual e uma não menos determinante exigência de coerência intratextual, a inteligibilidade do texto de chegada.
A avaliação de uma tradução é um assunto bem complexo, existindo várias teorias. Deveria evitar-se estas afirmações simples, sem fundamentação. Como é que José Mário Silva sabe que a tradução foi feita "sem esmero"? Que "erros de palmatória"? Muito, poucos, nenhuns? Com influência ou não na integilibidade do texto? Isto para já não falarmos do conceito de tradução que o José Mário Silva partilha. Será um "cibliste" ou "sourciste" (como diria Ladmiral) ou outra coisa qualquer? Também não quero deixar de referir que não estou aqui a fazer qualquer ataque pessoal ao José Mário Silva, apeenas uma crítica: gostava de saber como ele chegou a esta conclusão.

De qualquer modo, não se pode descontextualizar que estas afirmações foram proferidas no meio, ao que parece, de uma polémica literária, que eu não partilho nem posso partilhar, pois, como se costuma dizer, "estou fora", com atribuições de segundas intenções a Jorge Melícias, que sinceramente acho difícil de acreditar...

Leitura recomendada

A convicção de que o poder sufragado pelo voto universal legitima o seu uso irrestrito, porque está democraticamente fundamentado e será responsabilizado politicamente no fim do mandato, é o mais grave atentado dos nossos dias à liberdade. Sem que nos apercebamos, o governo põe e dispõe da nossa propriedade sem que à sua actuação sejam impostos entraves ou limites sérios. Pelo contrário, a invocação do «interesse público» por parte de quem governa, legitimando essa interpretação pelo voto popular, permite os mais graves atentados à propriedade, o mesmo é dizer, à liberdade.

14.4.06

A Globalização é Excludente?

"Uma das mais propagadas acusações dos antiglobalizadores contra a globalização é a de que esse processo aprofunda a miséria e a desigualdade distributiva do mundo capitalista, contribuindo para o aumento da concentração de riqueza nas mãos de uns poucos privilegiados e reservando apenas pobreza e desemprego para a maior parte das pessoas, seja nos países pobres, seja para os pobres dos países ricos.
(...)
tenho sido, creio, um dos primeiros comentaristas, no Brasil, a divulgar os trabalhos do economista catalão, da Columbia University, Xavier Sala-i-Martin, que tem pesquisado e trabalhado sobre os dados da distribuição mundial da renda e sua evolução ao longo dos últimos trinta anos. Essas três décadas correspondem, como todo mundo sabe, ao “espocar da globalização”, isto é, a fase final do socialismo (anos 1970-80) e o desaparecimento das últimas “terras incógnitas” para o capitalismo, com a incorporação da China e ex-satélites soviéticos à divisão mundial do trabalho (anos 1990 e início do novo milênio). Pois bem, o seu último trabalho, em fase de publicação: The World Distribution of Income: Falling Poverty and… Convergence, Period (texto original de 9/10/2005; a ser publicado no The Quarterly Journal of Economics, vol. 126, 2006), demonstra não apenas que a pobreza tem diminuído, mas que a distribuição mundial de riqueza também tem melhorado. E agora antiglobalizadores?"

Paulo Roberto de Almeida, "Sorry, antiglobalizadores: a pobreza mundial tem declinado, ponto!"

(via Instituto Millenium)

Leitura recomendada - e necessária! - para todos aqueles que insistem nas falácias de que a globalização é excludente, de que 1/5 da humanidade está globalizada em detrimento dos 4/5 restantes, de que a economia é um jogo de soma-zero, de que os países pobres são pobres porque os países ricos são ricos, de que o centro capitalista ganancioso explora a periferia ingênua e bem-intencionada, e assim por diante ad infinitum.

Caça às bruxas? Mas, afinal, quem a faz?

"Ordem, Liberdade e Estado" na imprensa

Os idiotas úteis face ao terrorismo

Benedict presided over another Mass dedicated to priests during which he recalled the sacrifice of a cleric slain in Turkey.

Benedict read a letter written by Rev. Andrea Santoro in which the Italian prelate spoke of his willingness to offer his own body for the sake of preaching Catholicism in largely Muslim Turkey.

Santoro, 60, was shot and killed Feb. 5 while he prayed in his parish in the Black Sea city of Trabzon. Witnesses said the killer, a 16-year-old boy, screamed "Allahu Akbar," Arabic for "God is great," before firing two bullets into Santoro's back.

Disparates mediáticos...

Nell’esortare a un esame di coscienza, la Chiesa suggerisce come ausilio il Discorso della Montagna. Le parole di Gesù sono il testo rappresentativo della nuova legge. La Croce è l’immagine speculare del Discorso. Il corpo straziato di Gesù è la luce che non è stata sconfitta dalle tenebre. L’oscurità del peccato non potrà mai sopprimere la luce della misericordia divina. I penitenti si lasciano l’oscurità alle spalle grazie a una confessione sincera dei peccati. Affinché approfondiate la vostra compunzione vi propongo il seguente esame.

► Abbandono l’orgoglio, l’invidia e l’ambizione e seguo il cammino di umiltà di Gesù? La scelta fra orgoglio e umiltà è resa concreta dal mio atteggiamento nei confronti delle Scritture? Sono docile e aperto alla Parola di Dio? Sono pronto a farmi giudicare da essa invece di giudicarla io? Trascorro una quantità di tempo sproporzionata leggendo quotidiani e giornali, guardando la televisione e utilizzando Internet in confronto al tempo che investo nella meditazione e nella lettura delle Sacre Scritture?
Até posso concordar que os exemplos não são demasiado felizes, mas há aqui alguma coisa que diga que ler jornais, ver televisão ou navegar na Internet é pecado?

Aliás, saberão os jornalistas de que é que falam quando falam de pecado?

Além do mais, nem sequer, das palavras de Francis Stafford, se pode inferir que o passar muitas horas a ler jornais, ver televisão ou navegar na Internet é pecado. O Cardeal em entrevista à TVNET explicou o sentido das suas palavras. Mas, será que precisava? É que a leitura da homilia é muito clara. Não há aqui numa publicação de uma listagem do que se pode fazer ou não.

Enfim, no fundo, foi "tomar a nuvem por Juno" e claro está, aproveitar para denegrir um pouco mais a Igreja Católica.

Post Scriptum. Parece que tudo foi originado por uma notícia da Agência Ecclesia de ontem. Não encontrei o link para essa notícia. Todavia, hoje, encontrei esta notícia: Pecados novos e antigos em que se diz:
Como a Agência ECCLESIA noticiou na altura, durante a cerimónia foi apresentado um longo elenco de perguntas para responder, em exame de consciência, antes de aproximar-se ao sacramento da Reconciliação, colocando em causa pecados “velhos e novos”. Entre essas perguntas estava uma relativa ao uso do tempo, comparando o investimento nos “media” com o que se faz para “meditar e ler a Sagrada Escritura” – prática que a Igreja recomenda, mesmo para cumprir os preceitos penitenciais próprios da Quaresma e da Semana Santa.
O texto falava numa “quantidade de tempo desproporcionada” (podendo configurar uma dependência), ocupada pelas actividades referidas, e convidava cada fiel a fazer o seu juízo a este respeito. De facto, na tradição da Igreja, o exame de consciência é um exercício espiritual que, à maneira de revisão de vida, recorda os actos bons e os maus, para agradecer a Deus os primeiros e lhe pedir perdão pelos segundos - mais que inventariar pecados, tem por objectivo progredir na santidade de vida.
Como não tenho, na verdade, o texto original não sei se as conclusões dos jornalistas eram justas ou não, mas parece provável, pela transcrição parcial da sua própria notícia anterior, que de algum modo a Ecclesia "meteu água". No entanto, quando ouvi a notícia de manhã na SIC-N, achei-a demasiado estranha e sabia que havia ali qualquer coisa que estava mal e, por isso, procurei um pouco mais, quando tive tempo. É que, apesar dos poucos dados da notícia, não me parecia nada que o Vaticano tivesse declarado uma lista com "novos pecados". Os jornalistas talvez pudessem ter feito um pouco melhor mas, é claro que a verdade já não era tão picante e por isso perdia-se todo o interesse.

13.4.06

Lisboa, 18 de Abril - 18.00

Ordem, Liberdade e Estado
Uma reflexão crítica sobre a filosofia política em Hayek e Buchanan


a ter lugar na Sala D. Henrique o Navegador, do Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica Portuguesa, em Lisboa (Palma de Cima), no próximo dia 18 de Abril de 2006, às 18.00 horas, com apresentação de Rui Ramos. A sessão será presidida por João Carlos Espada.

Mini foto-reportagem

Leitura recomendada (III)

Leitura recomendada (II)

Leitura recomendada

Não é realmente bonito o espectáculo desta Europa refém de uma clique radical que, dizendo que o quer continuar e aprofundar, pouco mais faz do que destruir o projecto pacientemente construído nos últimos 50 anos. Os resultados disso já são maus. Mas não nos assustemos, porque podem vir ainda a ser piores.

Ordem, Liberdade e Estado

Contribuições para o diálogo

12.4.06

O homem que era quinta feira

I announce, officially, that dear Iran has joined the nuclear countries of the world. His audience broke into cheers and chants of "Allahu akbar" (God is great).
O objectivo iraniano de longo prazo é atingir as 54000 centrifugadoras nucleares. No imediato é mais modesto: passar das actuais 164 centrifugadoras já existentes em Natanz para 3000 até final do ano.

Durante a guerra do Vietname, Sartre alvitrou a solução “definitiva” para o imperialismo americano: um ataque nuclear aos EUA. Sartre, discípulo de Heidegger, na eminência da derrota francesa perante os superiores exércitos nazis advertiu os seus compatriotas contra os riscos do fatalismo e os perigos do (falso) conforto de se encararem como vítimas de um destino imutável. Mas o mesmo Sartre, capaz de ver para lá do alcance do comum dos mortais, não viu o óbvio: que as potências ocidentais tinham dado à Alemanha nazi mais de seis anos para preparar a guerra e que se esse tempo de preparação lhe tivesse sido negado isso teria representado a salvação para milhões de seres humanos.

O valor que Sartre atribuía à vida humana é duvidoso. Também não foi capaz de ver as atrocidades do Gulag, ou de qualquer outra tirania comunista que despontasse no mundo. No resto da sua vida, Sartre produziu sistemáticas hipérboles retóricas, condenando o “imperialismo americano” e desculpabilizando tiranias avulsas como “vítimas” do capitalismo.

Things change. Sometimes. No ano de 1989 houve acontecimentos de extraordinária importância política. O “fim do comunismo” não foi um deles. Há muito que a convicção ideológica no marxismo havia desaparecido. Os regimes de leste sobreviviam graças a uma estrutura centralizada do poder político, não ao “cimento” ideológico. Por ironia do destino, a URSS foi a última estrutura imperial do mundo antigo, a forma mais bem sucedida do imperialismo que proclamava combater. Os habitantes dos países de leste tiveram que lidar com a mudança de regime; os marxistas ocidentais com a orfandade ideológica. Num artigo recente, Mark Steyn relata um episódio interessante, ocorrido durante a débâcle soviética:
In 1989, with the Warsaw Pact disintegrating before his eyes, poor beleaguered Mikhail Gorbachev received a helpful bit of advice from the cocky young upstart on the block: “I strongly urge that in breaking down the walls of Marxist fantasies you do not fall into the prison of the West and the Great Satan,” Ayatollah Khomeini wrote to Moscow. “I openly announce that the Islamic Republic of Iran, as the greatest and most powerful base of the Islamic world, can easily help fill up the ideological vacuum of your system.
Gorbachev não terá levado Khomeini a sério, mas no ocidente os órfãos do comunismo não perderam tempo e transferiram a herança intelectual dos “três ódios” sintetizados no marxismo — o anti-judaísmo, anti-liberalismo e anti-americanismo — para novas formas ideológicas, que à falta de melhor sentido filosófico foram-se designando como superações do que existia: pós-isto & aquilo. A luta continuava, em edição revista e alargada.

A demência apocalíptica de Ahmadinejad é subsidiária. Sem a cegueira cúmplice e deliberada de uma parte importante das sociedades ocidentais não representaria mais do que um risco geopolítico de média dimensão. Esta cegueira é uma forma especialmente perversa de igualdade. No conto “Harrison Bergeron” de Welcome to the Monkey House, o Handicapper General tem como tarefa anular os talentos físicos e intelectuais dos mais aptos. O objectivo programático geral dos comunitarismos, pós-estruturalismos & etc. é exactamente o mesmo, mas à escala da civilização: a excelência da civilização ocidental deve ser “desbastada,” nivelada pela bitola da mediocridade estagnada do islão.

Num artigo publicado em 1978 no Nouvel Observateur, Michel Foucault comparava Khomeini a um “santo.” No ano seguinte, o “santo” liderava a revolução islâmica iraniana. Foucault teceu os mais rasgados elogios à revolução, declarando a teocracia iraniana uma força “politicamente criativa.” Seguiram-se vinte cinco anos de exuberantes manifestações dessa “criatividade:” sequestros de diplomatas, organizações terroristas financiadas pelo Irão, atentados sangrentos no Médio Oriente, na Europa, na América Latina, infiltrações mercenárias na guerra civil da Bósnia... Eis-nos chegados à antecâmara da arma nuclear.

O regime de Teerão imagina que poderá avançar com o programa nuclear, sem que as suas intenções sejam, mais tarde ou mais cedo, contrariadas por uma acção decisiva do ocidente. É uma expectativa reforçada por um registo histórico de tibieza diplomática dos europeus e das instâncias internacionais, viciados na metalinguagem das “fortes” censuras, advertências “sérias” e apelos “vigorosos.” São duas décadas e meia de desculpabilizações do indesculpável, de tolerância perante o intolerável, de “iguais reconhecimentos” do que é flagrante e chocantemente diferente.

A expectativa iraniana envolve várias conjecturas. Primeiro, que as potências ocidentais nunca retaliarão, seja qual for o estado e direcção do programa nuclear iraniano. Segundo, se as coisas se complicarem de forma imprevista, poderão contar com a cobardia política da UE. Receosa de represálias terroristas, transferirá o ónus de uma eventual acção militar para os odiosos do costume — os EUA. Terceiro, que no final do processo, se os EUA não lhes frustrarem as intenções, a UE aceitará a arma nuclear iraniana, como parte integrante da sua dhimittude em curso, e subordinar-se-á às exigências do imperialismo iraniano.

Todas podem vir a revelar-se — tragicamente — correctas. Hoje tal como na década de 30, muitos europeus escolhem deliberadamente ignorar o perigo. Hoje como nessa altura, as potências económicas e militares do ocidente embrulham-se numa política de eunucos, anulando-se de forma suicidária perante ameaças crescentes mas (ainda) perfeitamente controláveis.

Há uns meses indignei-me com o simplismo leviano do discurso “deixa lá que os israelitas bombardeiam aquilo.” Em momento algum me passou pela cabeça trocá-lo pelo ultra simplismo do “deixa lá.” Shit happens. É com grande alegria que anunciamos a ascensão do querido Irão à categoria exclusiva de ameaça apocalíptica, now or later...

Os EUA e a União Europeia estão numa encruzilhada: a capacidade de acomodar pacificamente concepções irreconciliáveis da comunidade política está a esgotar-se. Numa multiplicidade de questões é cada vez mais nítida a profunda divisão no interior das sociedades ocidentais. A angustia e o medo aumentam a tentação do apaziguamento. Veja-se como a pura especulação jornalística sobre a possibilidade de existência de planos militares para o bombardeamento selectivo das instalações nucleares iranianas causou maior comoção do que os sucessivos anúncios das intenções do psicopata de Teerão de “riscar” Israel do mapa. Planos e intenções não são a mesma coisa.

Na década de 30, o teólogo alemão Reinhold Niebuhr, advertia os europeus sobre os perigos envolvidos nas tentativas de apaziguamento dos nazis:
When the mind is not confused by utopian illusions, it is not difficult to recognize genuine achievements of justice and to feel under obligation to defend them against the threats of tyranny and the negation of justice.
Mas as cabeças ocidentais estão muito confusas. Na noite de 17 de Janeiro, Noam Chomsky proferiu uma palestra perante mais de 1000 pessoas, que enchiam o O'Reilly Hall, no campus do University College de Dublin. O ponto alto da comunicação aconteceu quando Chomsky responsabilizou os EUA pela crise nuclear iraniana. Chomsky garantiu ainda que os teocratas iranianos seriam “loucos” se não prosseguissem com o programa de desenvolvimento de armas nucleares.

Chomsky e Vonnegut não são mentecaptos, nem tomam as suas diferentes ficções pela realidade: são niilistas patológicos e pretendem usar o islamismo politico como um catalizador da revolução anti-capitalista, de que nunca desistiram. A radicalização bipolar da sociedade serve os propósitos extremistas à esquerda e à direita. A estes dá-lhes a base eleitoral; sem o contraponto de uma extrema direita em ascensão, capturando o voto popular do desespero, a extrema esquerda perde apoio porque é mais facilmente percebida como indesejável. O certificado de aceitação política dos extremistas depende crucialmente da radicalização social.

Se seguirmos pelo caminho mais fácil, o centro vital a que se referia Arthur Schlesinger Jr. cederá definitivamente. Mais do que nunca, são necessários governantes capazes de decidir a via a seguir, sem restrições que só ajudam o inimigo. Porque é exactamente isso que a República Islâmica do Irão é. Ahmadinejad também "sonha" como Sartre.

A fábula dos três porquinhos
Era uma vez três porquinhos. Dois eram relativamente novos e ambiciosos; o terceiro era um velhaco esperto. Mais velho que os outros, era ele quem governava a pocilga. Os outros dois aspiravam a suceder-lhe.

Um dia rebentou o tumulto na pocilga. O primeiro dos porquinhos, encarregue da segurança, ameaçou com represálias. Como as suas ordens não eram acatadas e a paz geral tardava em ser restaurada, o primeiro porquinho impacientou-se e insultou os animais responsáveis pelos desacatos: escumalha!, grunhiu-lhes, desdenhoso. A rudeza do comentário foi mal recebida pela bicharada e surgiram dúvidas sobre a preparação do primeiro porquinho para a governação da pocilga.

O segundo porquinho pensou: esta é uma óptima oportunidade para mostrar as minhas capacidades. Decidiu anunciar reformas na pocilga. Ingénuo e arrogante, não lhe ocorreu que os leitões pudessem causar problemas. Mas os leitões desataram a guinchar sem parar, bem juntinhos e aconchegados, porque há força e segurança nos números.

O primeiro porquinho, que já tinha aprendido a ter tento na língua, mostrava-se agora mais cauteloso na linguagem e reticente no uso da força. Mas a guincharia e a confusão cresciam de dia para dia. O terceiro dos porquinhos limitava-se a observar o tumulto, à distância. Quanto mais certo estava de que os leitões não iriam desistir, menos dizia.

O segundo porquinho sentiu um arrepio gelado na espinha: percebeu que tinha caído numa armadilha e que os outros dois porquinhos não o iriam ajudar. Mas agora era tarde e se recuasse seria considerado fraco. Restava-lhe a hipótese de tentar uma saída airosa, na assembleia da pocilga.

Mas o terceiro porquinho estava atento. Antes que isso acontecesse, fez o que o seu instinto político há muito lhe recomendava e ordenou ao segundo porquinho que desistisse das reformas.

O segundo porquinho, humilhado e sem escolha, acatou a ordem, que equivalia a um golpe fatal nas suas ambições de vir a governar a pocilga. Lá longe, os leitões rejubilavam: vitória!

Poucos repararam numa porquinha, rosada e bem parecida, que sorria enigmaticamente. Sorria porque sabia que só ela tinha verdadeiramente motivos para estar contente. Daqui a um ano e praticamente sem fazer nada, as bolotas cair-lhe-ão no regaço.

É que os três porquinhos, afinal, eram quatro. E nem vale a pena falar do lobo mau...

Bastiat Prize 2006

IPN's Bastiat Prize for Journalism was inspired by the 19th-century French philosopher and journalist Frédéric Bastiat. The prize was developed to encourage and reward writers whose published works promote the institutions of a free society: limited government, rule of law brokered by an independent judiciary, protection of private property, free markets, free speech, and sound science. The prize (a total of at least USD $10,000) will be awarded to one or more authors. Entries for 2006 will be accepted from 31 March 2006 with a deadline of 30 June 2006.
O regulamento pode ser consultado aqui.

Socialistas de direita

Pater Familias

Para o STJ, fechar crianças em quartos é um castigo normal de «um bom pai de família» e as estaladas e as palmadas, se não forem dadas, até podem configurar «negligência educacional»(...)
O caso começou quando um Tribunal de Setúbal deu como provado que a arguida foi responsável pelo lar residencial do Centro de Reabilitação Profissional entre 1990 e 2000 e que, pelo menos desde 1992, fechou frequentemente um menor de sete anos (que sofria de psicose infantil muito grave) na despensa, com a luz apagada, para que aquele ficasse menos activo.
Também foi dado como provado, e o Supremo também validou a acusação, que a educadora «amarrou os pés e as mãos de um menor à cama».

[RSO]
Parece-me que o acórdão do Supremo Tribunal de Justiça recorda que um pai de família (ou quem age em seu nome) deve manter e exercer certos poderes, enquanto figura de autoridade e responsável pela educação dos filhos.

Quid Juris?
Ou simplesmente: que pensais, caros leitores?

Adenda: O Carlos Loureiro colocou no Blasfémias o link para o acórdão e promete comentar mais tarde o assunto.

Se

Pontos de Fuga

As medidas relativas à prevenção do tabagismo que o Governo tem vindo a deixar anunciar, inscrevem-se num pacote de tentadoras ideias que insiste em atribuir ao Estado o papel de reger as nossas escolhas individuais. Numa época em que a saúde é a preocupação central das populações e em que o culto do medo é elevado ao extremo, estas medidas caem bem na sociedade, que as aceita de bom grado, aplaudindo e acenando sem se dar conta do engodo. Mas, infelizmente, estas medidas não só não são positivas, como assentam em premissas erradas, que brevemente gostava de partilhar convosco. ###

Primeira premissa: Se o tabaco pode ser causa de doenças fatais, então o tabaco deve ser tratado como se de uma doença se tratasse.
O Estado, que não prescinde do seu direito de cobrar impostos sobre o tabaco e de permitir a sua comercialização, acha-se no direito de considerar o tabaco como causa de morte. Mas porque não proíbe o tabaco? Se o tabaco mata, se é causa de morte, porque não proíbe o tabaco, da mesma forma que proíbe a droga ou restringe a venda de determinados medicamentos?

Segunda Premissa: Se o tabaco é causa de morte, o Estado deve assumir políticas de restrição.
Já vimos que o tabaco não é considerado tão perigoso assim, caso em que se justificaria a sua proibição. O que existe é um juízo do Estado, isso sim, de que o tabaco é prejudicial à nossa saúde. Mas quem é que faz a lista de produtos prejudiciais à saúde? E o que é ser prejudicial à saúde? Quem decide? Os mesmos cientistas que em 2000 dizem que o azeite faz bem porque evita o câncro e em 2002 dizem que afinal faz mal porque aumenta o colesterol? Que conceito de saúde pública existe?

Terceira Premissa: A saúde pública deve ser um valor pugnado por todos.
Não existe um conceito de saúde pública, em primeiro lugar. Mas mesmo que existisse, tal conceito não pode nunca ser imposto a quem não quer dele partilhar. Sei evidentemente que as gorduras fazem mal e o álcool também. Devo ser proibido de os ingerir? Por outro lado, se a saúde pública é uma política pública, então que seja o Estado a assumi-la, a prestá-la e garanti-la, em vez de impor aos privados a obrigação de a praticarem.

Quarta Premissa: Os fumadores devem ser ajudados a deixar de fumar.
Sem comentários. Esta premissa destina-se, como em qualquer Estado socialista, a desresponsabilizar as pessoas pelos seus actos. A alimentar a sua dependência da máquina estadual para lhe determinar o certo e o errado, o bom e o mau. Como se, aliás, as pessoas não estivessem plenamente consciente dos malefícios do tabaco.

Quinta Premissa: Há que respeitar os fumadores passivos
Absolutamente. Temos aqui um caso de colisão de liberdades. A um não fumador não deve ser imposto o fumo de um fumador. Mas isso equivale a proibir sítios onde possam estar os fumadores, fumando? Restringido o direito de propriedade? Não, com excepção dos edifícios públicos do Estado, se ele assim o entender. Quanto ao resto, fumadores e não-fumadores vão frequentando os sítios que entenderem, consoante as regras que os proprietários vão definindo.

Sexta Premissa: Se os donos dos bares e restaurantes não forem obrigados a restringir o fumo nos seus estabelecimentos, a oferta para os não-fumadores decai.
Com tanta gente adepta destas medidas, com tanta gente cheia de vontade de sítios puros e zen, é impossível, absolutamente impossível, que o mercado não lhes dê resposta.

Peço desculpa pela brevidade, mas o tempo hoje escasseia. Se houver comentários, tentarei desenvolver alguns destes assuntos à medida que estes forem sendo suscitados.

Os sinos dobram por nós

O caminho escolhido

Caro Marvão, como saberás tenho nada a opôr aos movimentos de cidadãos e à sua livre expressão pública.
Simplesmente, ao contrário do que indica a tua citação de Régio, os jovens, os sindicatos e demais organizações políticas que contestaram o CPE sabem perfeitamente por onde querem ir. Querem continuar na mesma estrada que os trouxe aonde estão. Mais: querem alargar e prolongar essa estrada e querem que ela continue uma espécie de "SCUT", onde todos beneficiam do que os outros pagam, onde tudo lhes é apresentado como uma gratuitidade servida pelo estado, onde a felicidade lhes é garantida por um contrato resultante e enquadrado pela tal justiça social. Basta atentar na percentagem de jovens que, segundo as sondagens, quer ser funcionário da República: 75 %!
Na minha modesta opinião, continuarão a agravar-se as diferenças económicas e sociais com o UK, para não falar dos USA ou mesmo com as nascentes economias de leste. Os que hoje aplaudem a resolução de abandonar o CPE continuarão a dizer que a realidade é um erro que pode ser corrigido por decreto. Os outros estarão sempre errados e não haverá evidências que os conveçam.
Os franceses vão para onde escolheram ir.

Portugueses aconselhados a poupar

Os portugueses deviam poupar todos os meses e pôr dinheiro de parte, mesmo que os valores sejam «simbólicos».

O conselho é deixado pelo Observatório do Endividamento dos Consumidores, cujo relatório sobre a situação portuguesa foi divulgado ontem.

O estudo conclui que este hábito de poupar um pouco a cada mês pode ser uma «tábua de salvação» em caso de emergência, como numa situação de desemprego inesperado ou de sobreendividamento.

[Agência Financeira]
A classe política leu o relatório?

11.4.06

Amanhã

A nova democracia francesa

French students, emboldened by President Jacques Chirac's cave-in on a youth jobs measure, prepared new protests Tuesday to try to get rid of other government labor reforms.

(...)

Students welcomed the death of the contract but now want the government to scrap the entire law - not just the article that would have created the youth jobs contract.

"We want to see how we can take advantage of this power struggle that is now in our favor to garner new victories," Bruno Julliard, head of the UNEF student association, told AP Television News.

[CNN]
Se resultou uma vez...

A segurança dos medíocres

Against precariousness? That is perhaps to be expected in a country where 76% of 15-to-30-year-olds say they aspire to civil service jobs from which it's almost impossible to be fired. This flight from risk is not just a sign of civilizational senescence. It is a parody of the welfare state. Yes, the old should be protected from precariousness because they are exhausted; the sick, because they are too weak. But privileged students under the age of 26? They cannot endure 24 months of precariousness at the prime of life, the height of their energy?

There have, I suppose, been other peoples in other places who yearned for a life of mediocrity. But leave it to the French to make a revolution in its name.


Charles Krauthammer, Time magazine, sobre as manifestações dos estudantes franceses contra o CPE.

Tempo comunicacional

O intervalo que passa entre o anúncio das medidas do governo e a sua execução efectiva e impacto real, favorece o efeito propagandístico. O que “passa” nas sessões de anúncio, cuidadosamente preparadas por especialistas de relações públicas e assessores de comunicação, onde toda a mensagem é controlada sem contraditório e sem ruído, são as intenções, e as “intenções” são muitas vezes consensuais e de aplaudir, pelo que o efeito é positivo. Este tempo comunicacional dos anúncios é prime time, tempo nobre. Quando se começa a perceber a diferença entre as “intenções” e a realidade, o tempo comunicacional é já bem mais pobre do o do seu anúncio e a mensagem muito menos eficaz até porque muitas vezes já nem sequer está no centro da agenda política.
JPP no Abrupto (via Bloguitica)

Operação Hollywood

O cinema americano manteve sempre uma relação especial com a guerra e com o exército. Desde o nascimento do cinema, Hollywood nunca deixou de representar a guerra. Um grande número de filmes beneficiaram da cooperação com as Forças Armadas dos Estados Unidos e, em contrapartida, o exército recebe o direito de avaliar previamente os guiões. No presente documentário narra-se a história da relação entre a Meca do cinema e o Exército dos Estados Unidos e, ao mesmo tempo, tenta-se compreender a verdadeira natureza desta cooperação.
Hoje às 22h, no Canal de História.

Thank you for smoking





Adenda: citação abaixo!
Senator Ortolan K. Finistirre: Naylor, don't you even think of using him as an excuse. The man shills bull for a living. You work for a Senator.

Intoxicação

(...) dificilmente se compreende que muitos órgãos de informação portugueses tenham desencadeado um coro de insultos contra os mais altos dirigentes angolanos e toda a espécie de mentiras sobre o nosso regime e as nossas instituições.

Os fantasmas do colonialismo explicam muito deste comportamento. O racismo, numa primeira linha, responde por esta campanha bizarra. Mas a ignorância também joga um papel importante neste autêntico festival de mentiras e calúnias.

Muitos líderes de opinião portugueses que se têm destacado nesta campanha caluniosa contra Angola e os seus governantes desconhecem em absoluto o nosso país ou apenas têm conhecimento dele pelas informações que lhes são oferecidas por centrais de intoxicação.
Este editorial foi publicado no "desintoxicado" Jornal de Angola e reproduzido pela "central de desintoxicação" AngolaPress. No entanto, confesso que ainda me sinto "intoxicado" pela classificação de Angola (151º) no Transparency International (via Canhoto).

Nota: notícia sobre artigo de opinião lido no Jornal de Notícias.

A grande teimosia

ERC: programação televisiva

A Entidade Reguladora da Comunicação Social (ERC) deve impor um caderno de encargos às televisões privadas - SIC e TVI - que "defenda o princípio da diversidade da programação e do interesse público", alertou ontem, em Braga, o ex-director do Obercom - Observatório da Comunicação. Francisco Rui Cádima crê que "a ERC tem condições jurídicas e políticas" para o fazer de maneira a melhorar a qualidade do prime time televisivo.

O alerta foi lançado durante o debate de "A nova entidade reguladora no quadro das políticas de Comunicação em Portugal", na Universidade do Minho (UM), uma iniciativa do Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade e do Projecto Mediascópio daquela instituição.
Estado e seus servos ainda pensam estar na Idade Média da comunicação social (tradução: censura). É o telespectador quem decide, cada vez mais, que tipo de conteúdo consumir. Se as televisões privadas não o fornecem, outros canais de distribuição começam a surgir!

Itália (2)

De acordo com os resultados avançados pelo “Corriere della Sera”, a União de Prodi conquistou 341 assentos na Câmara dos Deputados, contra os 277 da Casa das Liberdades (CdL) de Silvio Berlusconi. No Senado, a União conquistou 158 assentos e a CdL 156.

A tarefa de Romano Prodi não será fácil, uma vez que assumiu a liderança de uma coligação frágil, na qual é conhecido o desacordo em vários pontos do seu programa comum.

[Público]
Com uma "coligação frágil" e a evidente divisão do eleitorado não vislumbro grande futuro para Itália. Qualquer que fosse o vencedor!

Itália

10.4.06

A Itália vista pelo jornalismo de causas

Estamos esclarecidos

Economics, french-style

Danielle Scache tries to avoid using the term "capitalism" in her economics class because it has negative connotations in France.

Instead, she teaches her high school students about the market economy, a slightly less controversial term she started using last year after a two-month internship at the dairy giant Danone. That was an experience that did away with more than one of her own prejudices, she said.

"I was surprised to see that people actually enjoyed working in a company," said Scache, who is 59. "Some of them were more enthusiastic than many teachers I know."

"You know," she confided with a laugh, "in France we often think of companies, especially multinationals, as a place of constant conflict between employees and management."
International Herald Tribune (meu destaque), via Marginal Revolution. Leitura recomendada.

Good old days

Blackadder: "Now, listen, Frou Frou ... Would you like to earn some money?"

Frou Frou: "No, I wouldn´t. I would like other people to earn it and then give it to me, just like in France in the good old days."
Do episódio "Nob and Nobility", Blackadder the Third.

[via Johan Norberg]

Concorrência fiscal

No ECOFIN de 6ª feira o ministro das Finanças alemão acusou a Áustria de fazer dumping fiscal. Tudo porque o país baixou o IRC de 35 para 24% e está a atrair empresas alemãs para o lado oeste da fronteira (as mentes brilhantes que, em Portugal, dizem que a fiscalidade não atrai investimento estrangeiro deviam pensar duas vezes...).
Camilo Lourenço, no Jornal de Negócios.

Passport

Espécie rara

Uma imensa maioria de europeus pretende mais riqueza, defende a liberdade, protege, com enorme apego, a sua propriedade privada, mas depois gostam de criticar o capitalismo. Há já alguns anos, costumo fazer o seguinte teste aos meus alunos: mostrem-me um país onde um sistema anti-capitalista tenha aumentado a riqueza, tenha defendido a liberdade e os direitos individuais e tenha protegido o pluralismo político e social? Ainda nenhum conseguiu encontrar esta espécie obviamente rara.
João Marques de Almeida, no Diário Económico.

Escolha Múltipla

Example[via RR]

Com a intenção de partilhar (ainda mais) o Insurgente com os seus leitores, deixo-vos este desafio: escolham a legenda que entenderem mais apropriada à fotografia do encontro "muito amigável" entre o PM português e o Presidente francês. Embora livres de fazerem outras sugestões na caixa de comentários, as minhas são as seguintes:

"Sócrates tranquiliza Chirac e explica ao governo francês como criar, pelo menos, 150.000 postos de trabalho."

"Depois de Freitas do Amaral, também Jacques Chirac confessa emocionado a Sócrates: «Sempre fui socialista!»"


"Chirac e Sócrates asseguram que o futuro do modelo social(ista) europeu é tão brilhante que teremos todos de passar a usar, permanentemente, óculos de sol."

França decadente

O PRINCÍPIO DO FIM DO ESTADO SOCIAL, por CAA.
Villepin não é Guterres, certamente. Mas o caldo cultural em que emergiram é bastante semelhante. A impossibilidade genética em descobrir modo alternativos de resolver os problemas, situados fora do âmbito estatista e regulador omnipresente, é a mesma. Por isso, o seu destino será muito parecido.

Mas é este modelo de Estado Social que está a ser julgado em França. É o proteccionismo e o garantismo estatal desenfreado que asfixiam a livre economia, aumentam a intervenção dos poderes públicos e torna nulo qualquer esforço de regeneração.

Riscar o pessimismo

Vamos falar verdade: o défice de 6 por cento conseguido pelo actual Governo em 2005 não é um bom resultado. É, na melhor das hipóteses, um resultado medíocre que, conjugado com o escandaloso agravamento do rácio da dívida pública em mais de cinco pontos percentuais num único ano (passando de um limiar abaixo de 60 por cento em 2004 para uma previsão de quase 69 por cento este ano), só pode ser entendido como um mau resultado. O efeito do galopar da dívida está já à vista: em 2006, de acordo com os números enviados a Bruxelas na semana passada, o Governo espera gastar, em juros, tanto quanto em investimento, perto de 4,4 mil milhões de euros. Em rigor, os números de 2005 só não são péssimos porque o nosso desejo de que "resulte" o trabalho desta equipa para bem do país é tão grande que risca o pessimismo da análise económica.

Eleições em Itália

Jornalismo de causas

A banca está a deslocalizar os depósitos de emigrantes portugueses para fora da Europa, promovendo a fuga ao pagamento de impostos sobre rendimentos, previstos pela Directiva da Poupança.

(...)

A directiva europeia, em vigor desde o ano passado, obriga os países da União a reter na fonte, a título de imposto sobre rendimentos, uma percentagem dos juros ou dividendos auferidos nas aplicações bancárias.

(...)

Face a este enquadramento legal, com taxas passivas reais a rondar o terreno negativo - quando a inflação é superior aos juros dos depósitos a prazo - e com o "novo" imposto a corroer os rendimentos, a banca nacional teve de recorrer a artifícios para captar ou manter a atractividade dos capitais remetidos pelos emigrantes.
Correcção: não é a banca que está a deslocalizar os depósitos, são os emigrantes!!!

(In)dispensável

Example
Aparentemente, este jovem, que para além de saber rematar também sabe voar, não faz falta no seu clube de origem, onde jogadores talentosos e empenhados são em excesso.
Este sócio do VFC agradece a perspicácia da política de contratações e empréstimos desse dito clube, a qual ajudou ontem a garantir a presença indubitável do Vitória na Taça UEFA da próxima época.

Centro Comercial Berardo

Quem parte e reparte e não fica com a melhor parte ou é tolo ou não tem arte. Joe Berardo tolo não é, a avaliar pelo negócio que acabou de fazer com o Estado português. E arte não lhe falta, como já estamos todos cansados de saber. Por isso, partiu e repartiu e saiu vencedor, como, aliás, o próprio reconheceu.
Joana Amaral Dias, no Diário de Notícias. A ler.

Re: Proibição

Esta será talvez uma das medidas mais eficazes a longo prazo, para reduzir a despesa na área da saúde. Aguardo pelas críticas à medida, ou quem sabe, aos seus objectivos...
O insurgente LA e o blasfemo Miranda já apresentaram algumas críticas à medida. Quero, agora, faze-lo em relação aos seus objectivos:
  1. Uma vida mais saudável não nos torna imortais... Deste modo, se a dita lei reduzir a taxa de mortalidade relacionada com o tabagismo haverá, consequentemente, aumento das mortes provocadas por outras patologias. Logo, não é certo que a despesa (pública) na área da saúde seja, "a longo prazo", reduzida.

  2. Segundo o Orçamento do Estado para 2006, as receitas fiscais do Imposto sobre o Tabaco (IST: 1,3 mil milhões de euros) cobrem, excluindo IVA, 17,2% dos cuidados de Saúde. Mesmo assumindo, por momentos, que quase um quinto dos cuidados de saúde são relacionados com o consumo de tabaco, o sucesso das medidas estatais sobre a saúde dos fumadores passivos deveria, portanto, significar a redução do referido imposto.

  3. E se, imaginemos, como consequência destas medidas, "a longo prazo" o número e longividade dos ex-fumadores aumentar? Apesar de não haver certezas quanto à redução das despesas de saúde (ver ponto 1.), o Estado teria de pagar pensões e reformas durante mais anos ameaçando, ainda mais, a solvabilidade do sistema de segurança social.

Adenda: sobre o assunto, JLP publicou, dias atrás, interessantes cálculos.

Totalitarismo higienista

As anunciadas medidas de limitação do fumo, agora em todos os locais públicos, merecem ser discutidas.

1. Em primeiro lugar, são medidas que concretizam um maior controlo das nossas vidas pelo Estado. Tecnicamente são totalitárias (o que não é o mesmo que fascistas ou autoritárias), pois esse controlo visa não só a protecção de terceiros mas também a formatação da vida de cada um e de todos nós segundo um modelo de referência higienista, como transparece na anunciada colocação de imagens macabras nos maços de tabaco, assim se dando continuidade, mais de uma década depois, à frase publicitária de mais mau gosto da nossa história recente (que cito de cor): “beijar uma mulher que fuma é como lamber um cinzeiro” (de Macário Correia).

Diplomacia chavista - II

A imagem descreve a perseguição ao automóvel do embaixador americano na Venezuela, de que o AAA deu conta e em que os perseguidores lhe atiraram ovos e tomates. E o que estava a fazer o embaixador de tão terrível para merecer ser assim tratado?
A resposta é que ele se encontrava numa missão claramente com fins subversivos e insurreccionais, a distribuir bonés e bastões de baseball, destinados a uma liga juvenil e provenientes de doações.
Os perseguidores indentificaram-se como sendo Tupamaros, verdadeiros guardiões da democracia de Chávez.

França

O presidente francês, Jacques Chirac, anunciou hoje que o Contrato de Primeiro Emprego, CPE, será substituído por um mecanismo a favor da inserção profissional dos jovens com dificuldades para entrar no mercado laboral.


[fonte: Diário Digital]

Dramas do feminsmo pós-moderno

Os jornalistas de causas a que temos direito

Diplomacia chavista

Venezuelan President Hugo Chavez said the U.S. ambassador was "provoking the Venezuelan people" and threatened Sunday to expel the American diplomat, whose convoy was chased by pro-government protesters on motorcycles.

9.4.06

Mundo Moderno

Em destaque